Por Hora do Povo—

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), com a participação de representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI) e Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal), realizou, nesta terça-feira (11), o Seminário “Nova Política Industrial a Serviço do Desenvolvimento do Brasil”. O debate contou ainda com as presenças de Artur Bueno (CNTA), Ubiraci Dantas (CTB), Maria Pimentel (CTB), Carlos Müller (presidente do Sindmar e da Conttmaf), entre outras lideranças.

O encontro debateu a construção de uma agenda unitária entre os diversos setores da sociedade, unindo trabalhadores e empresários, pela retomada da industrialização do país. Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, o Brasil tem uma enorme potencialidade a partir da indústria naval, da indústria energética e infraestrutura, “mas a indústria que almejamos ainda encontra muitas pedras no caminho. Hoje 96% do petróleo da Petrobrás é transportado por navios de bandeira estrangeira, tornando o setor totalmente dependente”, exemplifica. “É possível construirmos um caminho de desenvolvimento nacional, com crescimento e valorização do trabalho”, afirma.

Carlos Pereira, um dos organizadores do encontro, ressaltou que “o Brasil já foi o país que mais cresceu no mundo, com 7% ao ano por 50 anos, de 1930 a 1980. Era um país que avançava. Hoje a situação é totalmente outra. Estamos com 10,5% de juros, estamos oprimidos pelo capital internacional. As importações subsidiadas, que quebram a produção nacional. É essa situação que temos que rever, no sentido de montar um pacto nacional para retomar o crescimento da indústria”.

Ao final do encontro, Pereira leu um manifesto a ser apresentado e debatido com a sociedade brasileira, com o governo, a fim de aprofundar e criar uma ampla frente pela reindustrialização do país. (Leia a carta no final da matéria).

O Seminário contou com exposição de Rafael Lucchesi, diretor da CNI, que fez um resgate histórico do processo industrial brasileiro desde a Revolução de 30, com Getúlio Vargas. “Até a década de 30 éramos um país agrícola, com o café como principal produto de exportação. Com o crash de 29, muito perto da Segunda Guerra, temos uma disputa de hegemonia. A Inglaterra em decadência e os EUA em ascensão. É exatamente quando o Brasil transita de seu sistema econômico, com uma ruptura, quando o tenentismo assume o poder em 30. Ali começa a haver uma virada, começa a se industrializar, mais do que a Argentina, que empobrece. E o Brasil recupera o PIB de 29 em 1932. A Argentina ultrapassa só em 1949. Avançamos muito nesse ciclo e isso se permitiu criar uma hegemonia industrial desenvolvimentista no Brasil. Vargas dá um enorme salto, com construções políticas organizadoras, com a CLT, tudo isso é uma construção histórica importante, que segue com Juscelino, João Goulart, até a década de 80”.

De acordo com Lucchesi, a partir da década de 80, com a adesão ao Consenso de Washington e a transferência do protagonismo econômico ao rentismo, ao setor financeiro, “a gente começa a perder densidade produtiva e desse ponto de vista o Brasil foi o que mais perdeu”. “Perdemos estrutura produtiva, capacidade produtiva e retrocedemos. As exportações de alta e média tecnologia caíram 50%. Estamos tendo uma especialização regressiva porque estamos abrindo mão dos segmentos mais sofisticados”.

“Mas agora, temos uma oportunidade”, avalia, ressaltando ainda que “o dialogo pelo desenvolvimento do país que exige maturidade”.

“O mundo hoje aposta em uma agenda de política industrial, conteúdo nacional, restrição a importações, apoio a suas exportações, intervenção do Estado”. Para Lucchesi, o Brasil tem grande potencial industrial com a forte agenda de descarbonização. O país tem energia verde em abundância, energia limpa e barata. Energia renovável, eólica e hidrogênio verde, que poderão impulsionar enormemente a nossa economia”, ressalta.

Também presente ao debate, José Reginaldo, da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI), destacou que a atuação dos trabalhadores “foi duramente comprometida desde as reformas trabalhista de 2016”. E reforçou a necessidade de uma agenda de crescimento que configure também melhores condições de trabalho e desenvolvimento social”.

“O Consenso de Washington degradou as condições de trabalho. Não há retomada da indústria para o Brasil voltar a crescer se o empresário se mantiver subjugado, debaixo da dependência e do pseudo modelo desenvolvimento primeiro mundista, fazendo que ele, empresário, viva como em contínuo processo de negação, com dilema existencial entre valorizar a mão de obra ou desnacionalizar qualquer papel do estado”, completou Reginaldo.

Para Assis Melo, da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal), “o custo Brasil, todo empresário acha que são os salários e os direitos. Mas não querem olhar para as taxas de juros, o aumento do preço da energia e da água privatizadas. Estado é fundamental para retomar o crescimento econômico e uma indústria forte, como se mostrou na pandemia e na tragédia no RS”, afirmou.

Maria Pimentel, dirigente da CTB destacou que é preciso também “cobrar do governo”. “Para o crescimento da indústria, tem que haver a redução dos juros, fim do teto de gastos e acabar com esse negócio de déficit zero”, ressaltou.

Em sua fala Bira convocou os presentes para audiência pública na Câmara Federal, no dia 10 de julho. “Vamos fazer uma audiência pública na Câmara Federal, com governo, trabalhadores e empresários. Nos últimos 12 meses foram destinados R$ 760 bilhões para a banca internacional. Enquanto isso, os professores estão há meses em greve e a proposta é zero de aumento. É preciso dar início a esse possesso de construção dessa frente. Unir todos os patriotas pela reindustrialização do Brasil”.

Carlos Müller, também destacou que “o papel da Petrobrás para valorizar a indústria nacional é muito importante. Ela precisa contratar a construção de navios e plataformas no Brasil e trabalhar com navios de bandeira nacional”, defendeu.

Leia abaixo a carta aprovada no Seminário:

AO POVO BRASILEIRO

Cresce com a força da razão, a Unidade Nacional para livrar o país da estagnação econômica que há décadas mina as energias do povo brasileiro e de seu setor produtivo. Nos últimos treze anos, o crescimento do PIB brasileiro foi Zero e, ampliando o foco, de 2%, em média, nos últimos 40 anos.

Não é mais possível que o país viva sufocado pelas maiores taxas de juros do mundo, que assaltam mês a mês, há mais de 30 anos, os cofres do Tesouro Nacional, e bloqueiam o nosso crescimento, fórmula pós moderna de promover a derrama. Só nos últimos 12 meses foram pagos 776 bilhões de reais em juros, o equivalente ao orçamento da Saúde, da Educação e do Bem Estar Social somados.

Essa irracionalidade é capitaneada pelo próprio Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto, banqueiro de terceira geração e adepto da doutrina do estado mínimo, da farra importacionista, da desindustrialização e da reprimarização da economia nacional.

Não temos porque suportar esse atraso de vida. Somos o Brasil dos defensores da indústria como Rui Barbosa e Roberto Simonsen, da modernização trazida pela revolução de 1930, da economia que mais cresceu no mundo durante 50 anos.

Somos o povo que escreveu uma das constituições mais modernas do mundo. Somos o Brasil de Getúlio e Juscelino, de Jango e Tancredo. Um país que elegeu três vezes um operário metalúrgico para a Presidência da República e que, se quiser, pode ter um futuro radiante pela frente.

O Brasil é um dos cinco países com maiores riquezas naturais do mundo, com 8.500 km de litoral, maior floresta tropical do planeta, maior rede hidrográfica, dimensões continentais, maior reserva mineral e uma só língua em todo o território nacional.

A riqueza gerada pelos que produzem: os impostos, os saldos comerciais, as reservas e, como consequência, o crédito, hão de ser utilizados na construção da infraestrutura, em universidades, na escola integral, na educação infantil, nas creches, na habitação, na cultura.

Já passou a hora do Brasil se libertar das amarras que impedem nosso crescimento econômico. Para isso, o principal é reduzir as taxas de juros, aumentar o investimento público, estimular o investimento privado para um novo patamar – já foi de 25% do PIB e hoje é 16%.

Disponibilizar crédito abundante e barato para o desenvolvimento tecnológico, em especial para a indústria de base. Concentrar as compras do governo nas empresas de conteúdo nacional, na construção civil, na indústria naval, na aeronáutica, na defesa, no polo industrial da saúde.

Forjar a economia no fortalecimento da produção industrial e no mercado interno, complementados por uma vigorosa produção agrícola, num salário mínimo suficiente para sustentar a família e estimular as vendas. Numa indústria pujante em tecnologia e respeito ao meio ambiente. Formar uma poderosa corrente pela reindustrialização do país. Deixar falando sozinhos os arautos da especulação financeira.

É nossa responsabilidade completar a obra dos que iniciaram a construção de um Brasil grande e próspero para seu povo, para que nossos filhos e netos acreditem no futuro da pátria e da humanidade.


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