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Na primeira quinzena de março, a viagem a Caracas, feita pelo assessor especial da Presidência, desatou mais um temporal de condenações injustificáveis à política externa, melhor dizendo, com reclamações calcadas, exclusivamente, na doutrina liberal circulante no campo ideológico da Nato. Semelhante crítica caminha com desenvoltura na mídia monopolista-financeira e produz ecos em setores considerados à esquerda, incluindo em certas personalidades influentes nos partidos ligados ao Governo Federal. Considere-se que o barulho está vinculado às pressões que a Casa Branca vem dirigindo à sociedade política do País, para induzir os agentes públicos a uma conduta cativa em geopolítica.

O jornal O Globo, que durante a última crise institucional inclinou-se à defesa do regime democrático e criticou a intentona golpista, no dia 9/3/2023 noticiou em manchete uma suposta “missão secreta à Venezuela para ampliar relação com Maduro”. Curioso como a Globo News, canal do mesmo conglomerado, repetiu a bobagem sobre a visita “escondida” no momento em que mostrava para os telespectadores um vídeo, largamente veiculado por canais oficiais, em que o presidente venezuelano recebia Celso Amorim na cena mais cógnita e ostentada possível. Um episódio clássico, em que as imagens desmoralizam o palavrório, de resto esvaído no dia seguinte pela sua própria inconsistência.

No mesmo nível, o rescaldo. Pelas redes sociais, um fiel situacionista se referiu aos regimes políticos da Venezuela, da Nicarágua e de Cuba como “ditaduras”. Repetiu, assim, o anátema que, atrelado a uma concepção universal-abstrata, incomoda-se com as especificidades histórico-sociais dos países, ignora os procedimentos agressivos do imperialismo, rejeita elementos básicos da situação concreta e faz coro com a intromissão estadunidense nos assuntos internos do “seu quintal” rebelde. Claro está que a expressão “regime político”, de fato inatingível ao senso comum de certos comentaristas e políticos, foi alegremente substituída por “Estado” e “governo”, em miserável confusão conceitual.

O que dirão sobre a viagem à China, com amplíssima comitiva empresarial e política, preparada pelo pool de ministérios? Até agora torcem pela pauta econômica e técnica, conforme as reais prioridades “para dentro” – ciência, tecnologia, indústria urbana e agropecuária. São temas de importância estratégica, já preparados em minutas prévias de acordos a serem assinados. Os magnatas – externos, internos, associados – desejam que tudo fique na santa paz das questões triviais, até incômodas por consolidarem uma reaproximação com a potência oriental, mas toleráveis. Afinal, o Pindorama do “Sul Global” tem que produzir e vender, bem como dinamizar o metabolismo do capital sem pátria.

No entanto, haverá entendimentos reservados, inevitáveis na diplomacia. Como ficará, com a vaga deixada por Marcos Troyjo, a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento? Que pedidos para ingresso no Brics serão imediatamente aceitos? Como impedir a dolarização monopólica do comércio internacional? Como responder às sanções unilaterais que atingem associados e pretendentes? Que orientação prática, perante a sabotagem norte-americana e as oscilações na UE, poderá implantar o cessar-fogo e a paz na Ucrânia? Tais pesadelos nem de longe devem perturbar o sono dos novos moradores no Palácio da Alvorada, mormente nas vésperas de um passeio próximo à Muralha da China.

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