https://veredapopular.org/wp-content/uploads/2023/03/WhatsApp-Audio-2023-03-24-at-11.43.18.ogg?_=1

Enquanto a comitiva brasileira está viajando à China, em tarefa de suma importância, os setores que juraram tumultuar sistematicamente o Governo Lula-Alckmin o acusam, sem a menor evidência, de cumplicidade com as quadrilhas bandoleiras. Chegam até a dizer, como alguns parlamentares de partidos hiperconservadores, que o ministro Flávio Dino, por comparecer ao Complexo da Maré, denotaria um “envolvimento com o crime organizado”. Semelhante baixeza merece uma resposta firme. A queixa-crime contra os senadores Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Marcos do Val – que abarca os deputados Carlos Jordy, Paulo Bilynsky, Otoni Junior, Gilberto Silva – é um bom começo.

Todavia, é insuficiente. As forças revolucionárias devem preparar-se para uma luta que só acabará com a vitória decisiva sobre o fascismo. Primeiro, é preciso manter o amplo entendimento, entre os democratas e progressistas, para garantir a estabilidade nacional e as iniciativas de interesse popular. Concomitantemente, urge mobilizar por baixo as grandes massas por suas reivindicações mais sentidas, que sempre se chocarão com a intolerância dos magnatas. Por fim, deve-se travar um embate contra-hegemônico amplo e permanente, que desvende os principais problemas nacionais. Portanto, a grave relação entre a delinquência, o capitalismo e a política pede algo mais do que o viés romantizado.

Em face de acusações tão estapafúrdias, veicula-se, generalizadamente, a tese de que os eventos em Natal e a operação armada contra um rol de autoridades não seriam políticas. Esse vocábulo ficaria restrito à dimensão, para uns, nada menos do que sagrada, para outros, só nobre, para mais alguns, apenas eleitoral-legislativa, e assim por diante. Confundem, pois, o “ser real” e o “dever ser”. Tal idealismo ingênuo retoma e aggiorna o conceito aristotélico – compreensível ao se referir à formação econômico-social escravista –, cujos escopos e objetivos na Pólis seriam, como privilégios da “elite”, a felicidade humana coletiva, separando-se, pois, da “ética”, de vez que supera os limites individuais.

Semelhante viés liberal é receita para o defensismo. De forma semelhante à sua existência no plantio, na indústria, no comércio e na lavagem, os narcotraficantes vivem à margem da legalidade burguesa, mas inseridos com suas empresas na lógica metabólica do capital. Da mesma forma que outras modalidades marginais com infraestrutura desenvolvida, mantêm contatos com partidos e políticos, em alguns casos até influindo nas instituições públicas. Como não estariam fazendo “política” os “padrinhos” da máfia na Itália e nos USA, os “chefões” dos cartéis na Colômbia e no México, a diplomacia opiácea do colonialismo inglês na China, o conluio da CIA com traficantes na região centro-americana?

Há infinitos exemplos. Como classificar, senão como política, o prestígio de “bicheiros” na sociedade, o arreglo do regime ditatorial-militar com facínoras de Fleury, o terrorismo estatal que se alastrou em 1969, o intercâmbio entre o “Esquadrão Le Cocq” e parlamentares, os vínculos da família Bolsonaro com as milícias cariocas, o assassinato – ainda por resolver – da vereadora Marielle Franco? Têm que nome, tais fatos? Já passou a hora de colocar os pés na terra e ver, à luz do marxismo, a política como expressão das lutas entre as classes – mesmo que indiretas, mediadas, ocultas e não raro feias –, como é o programa irrecorrível dos partidos burgueses, especialmente a sua fração reacionária.

Portanto, é preciso responder às provocações, indo ao ponto nevrálgico e sem vacilar. Que interesse faz a extrema-direita pôr as operações criminosas como principal bandeira oposicionista, sobretudo no momento em que o povo brasileiro exige providências emergenciais e a Justiça vai prosseguindo no processo contra os responsáveis pelo fracassado putsch? Por que os detratores do ministro ficaram tão incomodados com a sua presença no Complexo da Maré, quando muitos reclamam sobre o propalado “Estado-Ausente”? No passado, alguns dos acusadores apoiaram bandidos, empregando e até condecorando conhecidos milicianos do Rio. E agora, em nome de quem fazem política?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *