Caros camaradas!
Em nome do Partido Comunista da Ucrânia, dou as cordiais boas-vindas aos participantes do 22º Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários. O partido foi ilegalmente proibido em meu País, onde nossos camaradas e pessoas de ideias afins enfrentam perseguição política, prisão e violência física nas mãos do regime neonazista-oligárquico, um regime que é, em sua essência, reacionário e fascista.
Estamos na Ilha da Liberdade, em um momento difícil. As forças do imperialismo internacional, os tubarões da globalização, em sua luta por redesenhar o mapa político do mundo, por mercados de recursos e produtos básicos, recorrem a qualquer método e, de fato, atuam como instigadores da Terceira Guerra Mundial. A tragédia é que as forças reacionárias fazem uso ativo do neonazismo e do neofascismo para atingir seus objetivos.
A análise da situação internacional mostra uma crescente agressividade do imperialismo e uma dramática exacerbação de suas contradições internas em duas áreas:
A ideológica, entre o Ocidente imperialista, liderado pelos Estados Unidos, e a China comunista, que, após o colapso da URSS, consideram “um império do mal”, assim como Vietnã e Cuba;
Os Estados Unidos buscam preservar sua hegemonia e a ordem mundial na qual desempenham um papel dominante.
Os Estados Unidos estão criando novos blocos militares no sudeste asiático, assim como alimentando as tensões no Oriente Médio e norte da África, além de adotarem uma política agressiva de usar a Ucrânia contra a Rússia e Taiwan contra a China. A visita provocativa de Pelosi a Yerevan e suas promessas de apoio à Armênia levam, inevitavelmente, a uma escalada do conflito no Cáucaso entre a Armênia e o Azerbaijão. A situação na Ásia Central é preocupante (o recente conflito entre o Tadjiquistão e o Quirguistão).
Após a dissolução da URSS, foram os Estados Unidos e a Grã-Bretanha que criaram um Estado neofascista no território da antiga Ucrânia soviética, tornando-se os seus principais patrocinadores e beneficiários.
As reformas impostas à Ucrânia deram ao capital o controle de todas as esferas da vida social e garantiram o pleno controle das multinacionais sobre a vida socioeconômica do País, criando assim a base material para o advento e a afirmação, após o golpe armado de fevereiro de 2014, do poder das forças mais reacionárias: a burguesia compradora aliada aos neofascistas e ao crime organizado.
Foram essas forças na Ucrânia que destruíram todas as conquistas sociais e a soberania econômica, bem como levaram a uma profunda lumpenização da sociedade.
É por meio dessas forças que os Estados Unidos formaram uma estrutura de poder vertical fantoche e introduziram o controle externo do País.
É por meio dessas forças que os Estados Unidos desencadearam uma guerra civil fratricida na Ucrânia, uma guerra contra os cidadãos de Donbass, que defendem seus direitos e liberdades constitucionais. Foram essas forças que, a pedido dos círculos dirigentes americanos, fizeram com que a guerra civil em Donbass se transformasse em uma guerra contra a Rússia.
Na verdade, a humanidade já foi arrastada para uma nova guerra mundial. Eu gostaria de traçar um dos muitos paralelos trágicos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Europa trabalhou para Hitler na guerra contra a URSS. Hoje, a Europa fornece armas ao regime pró-fascista da Ucrânia e o fortalece financeiramente, agindo no interesse dos Estados Unidos.
A continuação dessa política conduzirá, inevitavelmente, ao alargamento do teatro de hostilidades ao território da UE.
Tentativas agressivas de alguns novos países europeus, em particular Polônia, Hungria, Romênia e Estados Bálticos, visando a revisar as fronteiras pós-Segunda Guerra Mundial, apenas acelerarão esse processo.
A ex-ministra das Relações Exteriores da Romênia, Marga, declarou recentemente, sem rodeios: “A Ucrânia está dentro de fronteiras não naturais. Deveria ceder territórios: a Transcarpátia à Hungria, a Galiza à Polônia, a Bucovina à Romênia. Esses territórios são de outros países”.
O senador estadunidense Lindsey Graham disse, cinicamente, que com armas americanas a Ucrânia lutará contra a Rússia até o último homem.
Na Ucrânia, morrem civis, inocentes, idosos, mulheres e crianças. É uma tragédia.
Ao apoiar o regime fascista na Ucrânia, os Estados Unidos e a Otan estão seguindo uma política que o ex-senador americano Richard Blake descreveu desta forma: “Não nos importa quantos ucranianos morram. Quantas mulheres, crianças, civis e soldados vão morrer. Não nos importa. É como um jogo de futebol e queremos vencer. A Ucrânia não pode aceitar uma solução pacífica. Cabe a Washington tomar a decisão de paz, mas enquanto isso queremos continuar esta guerra; vamos lutar até o último ucraniano.”
Tais declarações dos falcões da guerra confirmam nossa posição e as advertências feitas pelos comunistas ucranianos em Izmir, na semana passada: a ameaça de uma ofensiva fascista é real, a guerra que os EUA e a Otan estão travando com mãos ucranianas em território ucraniano é uma guerra em interesse exclusivo dos imperialistas estadunidenses.
Bilhões de dólares são destinados à produção de armas letais e munições; a nova primeira-ministra britânica Liz Truss está pronta para usar armas nucleares; um grande número de tropas da Otan está concentrado nas fronteiras da Ucrânia e de Belarus.
Os imperialistas fecham os olhos ao fato de que o regime pró-fascista de Zelensky está eliminando, impiedosamente, os oponentes políticos. Qualquer manifestação de pensamento livre é esmagada por unidades punitivas. Os crimes dos hitleristas e seus cúmplices durante a Segunda Guerra Mundial, que queimaram pessoas vivas em Oswiecim e organizaram os massacres de Gernica e Khatyn, são glorificados.
Os monumentos e sepulturas dos soldados soviéticos que deram suas vidas para extinguir as chamas das fornalhas dos campos de extermínio nazistas são destruídos.
Isso acontece não apenas na Ucrânia, mas em toda a Europa. O Moloch da glorificação dos criminosos nazistas devora as mentes, transformando o homo sapiens (“o sábio”) em “louco”.
O processo de recriar uma similitude do Terceiro Reich nazista está praticamente em andamento.
Esse “Reich”, como seu protótipo alimentado pelo capital transnacional, corporações americanas e britânicas, baseia sua ideologia na superioridade da raça “indígena”. Daí a lei dos povos indígenas que transformou em párias os russos que sempre viveram em território ucraniano, incluindo Donbass, Kharkiv, Odessa, Nikolayev, Kherson; na verdade, em todo o território do nosso País. Como os judeus na Alemanha nazista. Conhecemos pela história a tragédia que foi causada para milhões de pessoas.
Companheiros!
À luz do que está acontecendo na Ucrânia, eu gostaria, em primeiro lugar, de salientar que, infelizmente, não há consenso entre os partidos comunistas e operários sobre a natureza do conflito armado na Ucrânia, bem como sobre a posição do Partido Comunista da Federação da Rússia, que apoiou a operação especial.
Como cada confronto militar tem suas próprias características específicas, a primeira tarefa de todo marxista é identificar sua natureza de classe mediante uma avaliação apropriada.
Em nossa opinião, a guerra em Donbass contra o regime de Kiev deve ser considerada como uma luta de libertação nacional; em essência, uma guerra pela independência em relação ao regime fascista no poder, pelo direito do povo de falar sua língua materna e de recusar o caminho antirrusso imposto pelos Estados Unidos.
Portanto, com base na teoria marxista, o conflito militar na Ucrânia não deve ser considerado uma guerra imperialista no sentido literal do termo; e ademais, do ponto de vista russo, é considerado a luta contra uma ameaça externa à segurança nacional e contra o fascismo.
Todos nós estamos conscientes de que a Milícia Popular de Donbass não pôde resistir aos muitos milhares de militares ucranianos equipados com armas estrangeiras; portanto, a sua derrota levaria inevitavelmente à destruição completa da população de língua russa, muitos dos quais eram cidadãos da Rússia.
O exército de milhares de nacionalistas ucranianos, sob o comando de instrutores americanos e da Otan, concentrou-se nas fronteiras das repúblicas; o plano de invasão detalhado havia sido elaborado com antecedência pelos generais em Washington. Todos estavam esperando a ordem.
Como resultado, para proteger seus cidadãos e garantir a segurança nacional, a Rússia não teve escolha a não ser lançar um ataque preventivo.
Conforme a Constituição da Federação Russa, o presidente tomou as medidas previstas em lei, pois era impossível resistir à agressão de qualquer outra forma.
Ademais, o processo de negociação em virtude dos acordos de Minsk foi deliberadamente sabotado por Kiev com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, já vez que o estabelecimento da paz na Ucrânia não está previsto nos planos de Washington e da Otan.
Nesse sentido, a posição do Partido Comunista da Federação Russa nos parece muito razoável.
O caráter cada vez mais reacionário do imperialismo moderno é o resultado dos vários fatores que levaram ao declínio do movimento operário e ao enfraquecimento dos partidos comunistas e operários.
Os comunistas ucranianos acreditam que, ao elaborar a tática de nossas ações e ao definir as principais áreas de luta, é necessário partir da observação de que a correlação de forças moderna no mundo se inclinou a favor da reação que utiliza o fascismo.
Ao semear a discórdia entre as classes trabalhadoras, usando regimes fantoches, neofascistas e neonazistas, o imperialismo intensifica a exploração de países e povos, assim como destrói os alicerces da democracia popular e de uma ordem mundial justa.
As tendências mundiais modernas e as constantes crises econômicas diminuem, infelizmente, o potencial revolucionário dos princípios do internacionalismo proletário e minam a unidade das classes trabalhadoras. Isso também está acontecendo na Ucrânia, onde está sendo criada uma classe especial de guerra da “classe operária”, que vive da guerra e sem a qual não pode imaginar-se.
A política de sanções iniciada pelos Estados Unidos, a Grã-Bretanha e seus satélites políticos piora, inevitavelmente, a vida das pessoas comuns, enfraquece o potencial econômico dos Estados, causa desemprego e, consequentemente, aumenta o descontentamento social, desunindo, lamentavelmente, o movimento operário. O imperialismo mundial usa todos esses fenômenos como uma arma na luta de classes.
O que vemos hoje na Europa e nos Estados Unidos? Preços e taxas aumentaram muitas vezes. As empresas estão fechando; as pessoas estão queimando, publicamente, as contas de gás, eletricidade e água, organizando ações de protesto contra seus governos para exigir, entre outras coisas, o fim da loucura das sanções e da guerra na Ucrânia. Tudo isso está ocorrendo no contexto da militarização da economia, da política e da histeria na mídia em torno da guerra nuclear.
Estou convencido de que os partidos comunistas e operários devem canalizar as reivindicações econômicas e sociais do povo para a luta política. A luta contra a ameaça do fascismo e por uma mudança no sistema social que o gera, ou seja, o sistema capitalista como tal.
Hoje devemos admitir, honestamente, que as forças progressistas estão perdendo a batalha cognitiva pela mente das pessoas. É nosso trabalho superar isso. Tal é a única maneira, se quisermos evitar a catástrofe de uma terceira guerra mundial.
Nesse sentido, creio que, no contexto dos objetivos e tarefas do nosso encontro, considerando a situação mundial, assim como a necessidade de lutar pelo fim da guerra e pelo estabelecimento de uma ordem mundial justa, nós, comunistas e operários, devemos concentrar nossos esforços nas seguintes áreas:
– fortalecer nossa solidariedade, solidariedade com outras forças progressistas na luta contra o neofascismo e os instigadores de uma terceira guerra mundial;
– organizar um sistema de informação pública verdadeira sobre o que está acontecendo na Ucrânia hoje, na condição de ameaça à Europa e à humanidade;
– explicar às pessoas que a guerra civil em Donbass (2014-2022), do mesmo modo que a guerra Ucrânia-Rússia, foi provocada e desencadeada por regimes pró-fascistas na Ucrânia, a pedido e por interesse dos Estados Unidos, a fim de criar uma cabeça de ponte para o desmembramento e a destruição da Rússia como rival geopolítico;
– intensificar a luta contra qualquer tentativa de glorificar a ideologia nazista e resgatar a verdadeira história da Segunda Guerra Mundial;
– apoiar (sem recuar quanto a nossos princípios ideológicos) aqueles que defendem uma solução pacífica e o fim da guerra na Ucrânia, independentemente da sua filiação política. Tais políticos e forças existem em todos os países.
Também creio que todo o possível deve ser feito no nível dos parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu para neutralizar as ações provocadoras dos Estados Unidos e seus aliados, na região da Ásia e do Pacífico, contra a China. Com a guerra na Ucrânia e o possível confronto direto entre as potências nucleares, China e Estados Unidos, especialmente no contexto das declarações sobre a “ameaça nuclear” russa, as piores previsões podem, infelizmente, tornar-se realidade.
Caros camaradas!
A luta para acabar com a guerra fratricida na Ucrânia, desencadeada por multinacionais e seus asseclas nos governos dos estados europeus, mais que isso, a guerra em que a Otan liderada por Washington é na verdade parte do conflito (fornecimento de armas, munições e treinamento das forças armadas ucranianas, financiamento e controle da campanha militar), é a luta para evitar uma Terceira Guerra Mundial, que está a um passo. Devemos fazer todo o possível para evitá-la.
Agradeço mais uma vez a oportunidade de me dirigir aos participantes deste encontro internacional e expressar a confiança na nossa vitória, uma vitória da “luz” sobre as “trevas”.
Traduzido do espanhol por Paulo Iannone.
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