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Em 1992, durante a recessão, a campanha de Clinton – leia-se, a iniciativa de Carville, dirigente marqueteiro – procurava orientar os seus ativistas e apoiadores a sintonizarem o discurso eleitoral, estipulando lemas para chicotear o desempenho do então presidente Bush. Para tanto, cunhou a frase que se tornou icônica: “The economy, stupid.” Conforme a mitologia, o jargão teria funcionado. No entanto, persiste a dúvida sobre qual seria uma “idiotice” maior: creditar os processos políticos, exclusiva e mecanicamente, à economia, caindo em um naturalismo pueril, ou asseverar o primado integral da volição tática na disputa pelo voto, reproduzindo a crença idealista que perpassa o senso comum.

Conforme a formulação marxista, sintetizada por Engels na Carta para J. Bloch, de 1890, os termos da contraposição metafísica são falsos. A passagem que a ilustra é lapidar. “O fator que em última instância determina a história é a produção e reprodução da vida real. Nem Marx nem eu jamais afirmamos mais do que isso. Se alguém o tergiversa, afirmando que o fator econômico é o único determinante, converterá aquela tese em uma frase vazia, abstrata, absurda”. Resta lembrar que as lutas entre as classes ou frações, que se imbricam no metabolismo capitalista e se traduzem nas dimensões políticas, interferem na sociedade civil como ação de retorno, afetando as bases da existência humana.

Eis porque o primeiro mandatário teve certos motivos para imputar, em uma entrevista recente, a elevação da moeda estadunidense a um “jogo de interesse especulativo contra o real”. Todavia, vale registrar que as operações no cambio e nas bolsas, mais do que astúcias e conspiratas “malvados”, fazem parte – considerando-se as caraterísticas da burguesia contemporânea – dos próprios mecanismos e práticas institucionais responsáveis pelas transferências de valor, inclusive no referente aos juros amealhados mediante os títulos públicos e à circulação de propriedades acionárias entre conglomerados monopolista-financeiros. Destacam-se as sangrias para o exterior e os associados internos.

Por seu turno, cometem um subjetivismo vulgar os ideólogos, políticos e comentaristas ultraliberais, vez que pretendem serem as cotações dos equivalentes usados nas trocas internacionais meras respostas e reações às declarações de autoridades. Para os mais renitentes, um resultado exclusivo e direto. Para os que desejam pautar Lula, uma consequência combinada com alguns fatores, ao gosto peculiar de cada palpiteiro. Ambos vão além da política vista como causa sui, adotando a estranha semiótica de palavras “malditas”, que originariam os males. Comportam-se como supersticiosos que rejeitam os vocábulos “diabo” e “câncer”, crendo que o significante atrai as “desgraças” do significado.

Campos Neto, por exemplo, a pedra que os reacionários deixaram no caminho da vontade popular depositada nas urnas, disse – durante o fórum do Banco Central Europeu transcorrido em Portugal – que os “ruídos” sobre a trajetória monetário-fiscal teriam forçado, ao criarem a famosa “incerteza”, o Comitê de Política Monetária a manter a Selic na estratosfera. No fundo, a súcia conservadora faz tudo que pode para ignorar os êxitos em um ano e meio, tais como a elevação do salário mínimo acima da inflação, a baixa no desemprego e o retorno do crescimento, cujas verdades contrastam, visivelmente, com as crises nos EUA e zona do Euro, isto é, nos países que modelam o complexo de vira-latas.

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