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O fenômeno inovador nem sempre surge no tipo radical de “revolução política” impregnada com “alma social”, para lembrar o conceito formulado por Marx em Glosas críticas marginais ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social. De um prussiano”. Muitas vezes, mormente nos períodos “pacíficos” das lutas entre classes, aparece como alteração nos marcos da ordem vigente, mesmo que sem colocar em questão a lógica do metabolismo capitalista. Rescendeu a fragrância de algo semelhante na sexta-feira, 24/5/2024, ao menos como anúncio à mídia, quando Magda Chambriard concedeu a primeira entrevista, logo após da indicação pelo Conselho de Administração à Presidência da Petrobrás.

Claro está que o perfume pode muito bem gerar frustrações, mas nunca surge do nada. Desde a posse de Lula existe a expectativa – fruto, aliás, de um compromisso eleitoral – de que a poderosa empresa mista com hegemonia estatal seguisse um caminho reverso ao rumo entreguista e ultraliberal que a reação bolsonariana lhe ditou em flagrante contradição com seu verde-amarelismo de fachada. No entanto, passados quase um ano e meio, as indecisões da primeira gestão em face das pressões privatistas que o cercavam na sociedade civil e na seara política, inclusive as já crônicas entre seus acionistas e investidores privados, emperravam os procedimentos e as políticas do Governo Federal.

O discurso, agora, é firme, antecipando medidas concretas e correlatas, que apontam para o favorecimento na sua dimensão industrial e nos seus interesses comerciais, visando à disputa duríssima no mundo monopolista-financeiro que a cerca: “O esforço exploratório dessa empresa tem que ser mantido, tem que ser acelerado”. Disse, também: “Temos que tomar muito cuidado com a reposição das reservas, a menos que a gente queira aceitar o fato de que podemos voltar a ser importadores”. Completando, asseverou que a possibilidade submissa e deficitária “está fora de cogitação”. Assim, pulverizou a busca de ganhos imediatistas e quiméricos, antessala de um futuro sombrio para o País.

Prevenindo-se dos agravos conservadores ao nacional-desenvolvimentismo – doutrina que se integrou ao campo democrático e progressista, vitorioso em 2022 –, a recém-nomeada informou que a grande companhia reconhece o meio real em que opera: “Nós vamos respeitar a lógica empresarial […] sendo tempestivos”. Arrematando, prometeu: “garanto” que haverá “muito lucro” e “dividendos”. Igualmente, procurou tranquilizar os movimentos ambientalistas, citando como necessidade a “transição energética”, mas sem comprometer os interesses nacionais. Eis porque sublinhou a importância das novas fronteiras nos planos estatais, cujo pano de fundo atual é a Margem Equatorial do Amazonas.

Parece que, agora, o coro do primeiro escalão ficou mais afinado. Antes, o Ministério de Minas e Energia, na voz de Alexandre Silveira, afirmara que a Guiana extrai o mineral estratégico na mesma região do bloco adquirido no governo Dilma, defendera que os contratos sejam respeitados, reiterara que “o povo brasileiro” tem o “direito de […] conhecer suas riquezas” e deixara explícito que a União tem primazia para definir os caminhos da estatal: “somos controladores e não podemos nos envergonhar disso”. Doravante, concedendo fidedignidade às palavras oficiais, urge que a política verbalizada seja posta em prática, pois um terço do mandato atual já se perdeu com discórdias inconsequentes.

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