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O trabalho sem os direitos laborais conquistados em duras lutas pelo proletariado brasileiro ao longo do século XX e, não raro, até forçado por capatazes de latifúndios nas regiões onde as leis carecem de aplicação nos poros da hegemonia exercida pelo aparato estatal, configura uma odiosa espécie de superexploração capitalista. Revela-se, portanto, semelhante – “análoga”, pois – às práticas vigentes na Europa e nos EUA do século XIX, quando as frases do Manifesto, em 1848, festejavam a vitória de jornada com 10 horas e O Capital, escrito nos 1860, esclarecia o metabolismo das relações produtivas burguesas.

Como, pela célebre lei hegeliana do movimento sucessório, em que o novo precisa emergir do velho e manter alguns de seus elementos – vez que o nega dialeticamente, ao contrário de substitui-lo como se fosse uma troca de meras enteléquias platônicas –, o trabalho desobediente aos princípios constitucionais e às normas celetistas, não raro sob a mira de fuzis ou pistolas de jagunços, tem, obviamente, vínculos com formas precedentes à ideologia, cultura e sociabilidade hodiernas, inclusive ao cativeiro dos períodos colonial e imperial. Mas compará-lo positivamente à escravidão é um equívoco duplo e grave.

Primeiro, porque, hoje, os seres humanos são livres, ou seja, pessoas que podem impregnar com sua vontade a mercadoria, especialmente, o próprio trabalho como condição de criar valor e, logo, “ceder” mais valia para reproduzir o capital, viabilizando assim o mistério íntimo da moderna exploração. Ademais, porque tal essência não é aproximada –, símile, similar, vizinha equivalente ou afim – à situação em que os trabalhadores apenas eram mercadorias. Logo, propriedades pertencentes à velha oligarquia, compradas ou vendidas como quaisquer instrumentos – aí, sim, “análogos” a equinos e bovinos.

Os trabalhadores submetidos a jornadas forçadas são radicalmente “análogos” não a escravos, mas sim aos proletários da Europa no final das sociedades feudais e no primeiro século da formação econômico-social capitalista, como também do Brasil nos interstícios da escravidão e até a implantação definitiva da CLT contra os interesses patronais que a combatem ainda hoje. Trata-se de um capítulo camuflado pela mídia conservadora e as ONGs liberais, em parte por ignorância, mas principalmente para pouparem o capitalismo das mazelas e creditarem os seus males à suposta permanência do cativeiro.

O título – Assediados para morrer – não diz respeito, somente, aos cidadãos mantidos pelos empregadores sem os direitos que o próprio Estado burguês cedeu ao movimento sindical, por temer as lutas operárias e o fantasma do socialismo. Refere-se também aos brasileiros alistados em tropas ucranianas, sob a mudez obsequiosa dos críticos ao “trabalho análogo à escravidão”. Com a escassez de soldados, são recrutados pelos “gatos” a serviço da Otan, configurando assim uma intromissão na soberania do Brasil e também uma violação às leis nacionais, além de submeter os aliciados à provável morte.

Conforme comentaristas que analisam o fenômeno, as vítimas, enviadas inconscientemente ao conflito mortífero de alta intensidade, vêm alterando seu perfil psicoideológico e sociopolítico. A primeira leva era composta, sobretudo, por ativistas ligados à extrema-direita, simpatizantes ou membros de organizações nazifascistas identificadas com a propaganda banderista, muitas vezes ampliadas por alienados em busca de aventuras exóticas e românticas. Entrementes, as pessoas de valores direitistas vão sendo substituídas por necessitados e pobres, sob a promessa de salário polpudo e segurança ilusória.

Engajados nas empresas capitalistas prestadoras de serviço militar, os aquartelados se privam de seus direitos laborais, pois aceitam regras de guerra. Não têm “analogia” com escravos. Fazem, porém, um labor mais coato e compulsório do que o de civis forçados, já que seu desrespeito ao contrato é tido como deserção e seu refugo ao combate suscita fuzilamento pelas tropas de verdugos à sua espreita. Curiosamente, são denominados por Zelensky e Biden – além das mídias otanistas, ONGs russófobas e Dark Web – não como trabalhadores “análogos a escravos”, e sim como “heróis da liberdade”.

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