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O ex-deputado que preside o PL pode ser visto como símbolo de um agrupamento parlamentar informal, denominado vulgarmente como “Centrão”. Na geografia congressual brasileira, o termo se refere a políticos burgueses pragmáticos, para os quais a verdade pode, rigorosamente, ser definida como a utilidade subjetiva individual que prescreve a prática, centrada no resultado eleitoreiro amealhado para sua carreira e sobrevivência. Tal estirpe nasceu durante o regime ditatorial-militar, quando seus elementos eram referidos pejorativamente como “fisiológicos”, vez que subordinavam os anseios de interesse geral, sempre, aos seus reclamos pessoais de sobrevida e reprodução.

A porção mais à direita entre os políticos para quem os fins do momento justificam os conluios resolveu escancarar os portões partidários para os candidatos indicados pela reação protofascista. Esperava crescer na onda regressiva para, no atual governo e no futuro prometido, conseguir balaios de benesses ou cargos, além de ampliar privilégios quanto a orçamentos secretos. Para tanto acolheu Bolsonaro em suas fileiras como presidente honorífico e membro da Executiva Nacional. Por sua vez, o chefete, ainda no Palácio do Planalto, largou a construção do próprio partido com aparência de antiestablishment – Aliança pelo Brasil – e, como Hitler, fincou estaca na sigla já pronta.

Tal caminho – complexo, mas eleitoralmente viável como apetece aos seguidores incônscios de William James – tangeu as figuras díspares à convivência forçada que prenuncia os problemas. Nos estertores do que afirmam ser o “poder”, o mandante fez o sócio menor assumir, um tanto claudicante, a condição de fanático em lance desesperado: a petição da coligação peelista para invalidar os votos em 279 mil urnas. O pacto jogou seus adeptos em um beco sem qualquer saída. Os assinantes pagaram para ver a vontade judicial. O desprezo pela exigência do ministro Alexandre de Moraes, que solicitara uma correção na peça, estendendo-a para o primeiro turno, gerou consequências.

A sentença contra os autogolpistas foi duríssima: considerou a inexistência de provas ou mesmo indícios, condenou seus autores a pagar R$22,9 milhões por “litigância de má-fé”, ordenou abertura de processo administrativo à Corregedoria-Geral Eleitoral por “desvio de finalidade na utilização da estrutura partidária” e remeteu cópia do inquérito ao STF para o devido processo investigativo sobre a milícia digital. Na justificação, apontou “possível cometimento de crimes comuns e eleitorais com a finalidade de tumultuar o próprio regime democrático brasileiro”. Ou seja, o personagem-título se meteu em lençóis tão maus que os seus pares chegados a oportunismos nem imaginariam.

Em termos de perfil, ocupa o locus antônimo ao do Pedreiro Waldemar, exaltado na marchinha de Roberto Martins e Wilson Batista para o Carnaval de 1949, gravada pelo saudoso Blackout, que dignifica o trabalho. Já o infeliz homônimo – agora o falangista noviço que agrega uma enrascada mais às passadas e ao seu caráter abjeto, condenou-se a vacilar entre sacrificar-se na oposição incessante, que repele o hedonismo do arrivista, e seguir o caminho adaptacionista, que seduz a maioria dos seus colegas. Navegando em um mar de ambiguidades, nega o resultado exalado pelas urnas, mas o considera um fato consumado, pois já se diz oposição. Coisas de uma transição atípica.

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