Ronald Rocha*—
The Economist – editado por The Economist Newspaper Ltd. – é um tradicional e reverenciado porta-voz do capital monopolista-financeiro inglês, que ostenta uma larga circulação nos USA. Os seus editores adoram defini-lo como propriedade plural e democrática dos acionistas independentes; porém, os que mandam são, na verdade, os donos majoritários, esses controladores pertencentes ao ramo britânico da família Rothschild. No dia 13/10/2022, quinta-feira, o jornal – como a revista se denomina – resolveu beliscar os lóbulos dependurados nas orelhas dos imperialistas com antiga empáfia monárquica e colonial.
Enquanto a Europa entra em recessão, a Rússia sai – As Europe falls into recession, Russia clims out – avalia o desempenho e o futuro das citadas sociedades, relativamente a sanções aparentemente fatais. Assevera que, paralelamente ao caminho da UE rumo a uma crise no patamar continental – com estagnação, inflação e carestia crescentes –, a situação russa, muito ao reverso de previsões anteriores, conseguiu adaptar-se às novas circunstâncias e se recupera. Depois, registra o inopinado contraste ante as palavras dos governantes, com seus diplomatas, que só arrotam vitória e cantam hinos guerreiros.
A quase bicentenária publicação noticia que, paralelamente às pagas do gás em rublo pela maioria dos países ligados à União Econômica Eurasiática, interrompem-se as cadeias de abastecimento europeias, encarecendo combustíveis e alimentos. A inflação bate os seus recordes, piorando as condições de reprodução vital. Pari passu, a desaceleração dos mercados na Zona do Euro apresenta óbvios indícios de agravamento. A última pesquisa da S&P Global constata que a onda côncava dos negócios se pronunciou no mês passado, com a forte queda no índice final formado pelas gerências das compras – PMI.
O texto continua, em clima de fog, afirmando que “A guerra econômica entre a Rússia e o Ocidente está em um momento delicado. Enquanto a Europa oscila, beirando a recessão, a Rússia emerge da sua própria”. Mesmo passando por graves problemas – o efeito mediato provocado pelas sanções, a perda por imigração de força laboral em meio à mobilização militar e a retração dos fundos em depósito, entre outros – “a recessão provavelmente chegou ao fim”, como reconhece o “indicador de atividade atual” elaborado pelo Goldman Sachs Group Inc., que observa, mensalmente, o evolver da economia mundial.
O diagnóstico é corroborado por recentes previsões do Fundo Monetário Internacional, sobre a recuperação na Rússia. O FMI elevou a sua estimativa para 2022, ao diminuir o declínio do PIB para 3,4%, aquém da penúltima estimativa, de 8,5%. Para The Economist, parece um índice confortavelmente “administrável”. Mais confiança tem o Ministério da Economia na Rússia, que anunciou, no mês passado, a sua perspectiva para este ano: recuo bem menor, com 2,9%, contra os 4,2% antes projetados. Para 2024-2025, a instituição espera 2,6% positivos. Sem quaisquer dúvidas, um resultado acima do esperado.
A matéria londrina comunica, também, que a recuperada indústria automobilística do antagonista conseguiu adquirir peças de outras regiões, mormente asiáticas, burlando assim o breque na exportação tradicional, que vinha de fontes ocidentais. Informou, ainda, para comprovar sua hipótese, que a importação mensal de bens na Rússia, em dólares, agora excede a média do ano anterior ao contencioso bélico. Na sequência, conclui: “Os dados insinuam que o metabolismo russo é mais ativo do que nos grandes países europeus. […] De fato, […] sugerem que a Rússia será capaz de manter os seus gastos militares”.
O impasse da UE, contudo, é mais complexo do que suposto pelo veículo da pedante Albion. Engels – Carta para Bloch, 1890 – recusara substituir a “produção e reprodução da vida real” pelo “fator econômico”. No choque armado, que aciona capacidades humanas extraordinárias, tal vulgata nubla o exame. O que a nova correlação de forças, em vias de surgir com reservistas russos às centenas de milhares, acarretará? Que desdobre haveria em uma eventual guerra declarada? Hipoteticamente, sempre: como seria o possível recurso a uma “economia de guerra”? Eis o foco, além da mera conjuntura econômica.
* Sociólogo, ensaísta e autor, entre outros livros, de Anatomia de um Credo (o capital financeiro e o progressismo da produção).
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