O portal Vereda Popular entrevistou o compositor Andersen Viana, recém-premiado na Alemanha. Viana é professor da Fundação Estadual Clóvis Salgado em Belo Horizonte-Brasil. Começou a compor aos 13 anos e foi nomeado professor aos 19. Em seguida, obteve seu doutorado em composição pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e continuou seus estudos em outras instituições no Brasil, Itália e Suécia, incluindo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Reale Accademia Filarmonica di Bologna, a Art Academia de Roma, a Accademia Chigiana di Siena e o Royal College of Music em Estocolmo. Escreveu 422 obras musicais para quase todos os conjuntos instrumentais e vocais e recebeu 34 prêmios de composição na Argentina, Bélgica, Brasil, Chile, França, Itália, Espanha, Sérvia, Ucrânia e EUA.

Confira a entrevista para o site Vereda Popular.

VP – Você recebeu, recentemente, o prêmio internacional Genzmer 2022, um concurso de composição promovido pela Fundação Harald Genzmer em associação com a Universidade de Música e Artes Cênicas de Munique, na Alemanha. Qual foi o motivo desse importante reconhecimento?

Andersen – Acredito que a obra enviada (Micropeças para Violoncelo e Piano) tenha chamado a atenção do júri pela questão da praticidade de execução, pois destinada a alunos de bom nível de excelência, mas que se adequam também a profissionais. São quatorze pequenas peças que se diferenciam muitissimamente entre si, resultando em um grande impacto sonoro e performático. Como uso extensivamente a teoria do Hibridismo (desenvolvida modestamente desde 1986), esta obra tem conexões com outras obras desde a década de 1980 até o presente (2022). Dessa maneira, consegui criar certa unidade entre obras diversas de diferentes períodos. Acredito que o altíssimo nível do júri colaborou sobremaneira para esse resultado – que geralmente fica em mãos europeias. Eles compreenderam que ali existia algo incomum, que transcendia à própria poética da obra, mesmo não sabendo exatamente o que era, pois não explicado textualmente (Hibridismo).

VP – Quais são os principais aspectos de sua carreira ou trajetória como compositor, em nível internacional?

Andersen – Sempre pretendi completar meus estudos no exterior, por diversas razões. Amplia-se a visão cultural, e conhecem-se outras maneiras de trabalhar, pensar, agir e ser, enfim, novas possibilidades profissionais surgem. Preparei-me para isso e, em 1989, recebi o Scholarship Award da Berklee School of Music para estudar música destinada ao cinema, em Boston-EUA (um dos professores era o renomado John Willians), mas desisti, pois preferi me casar (e isto com certeza foi o maior erro que cometi!). Na sequência recebi uma bolsa de estudos da Arts Academy of Rome (1992) em composição musical e, desta vez, parti com decisão para a Cidade Eterna, onde ficaria por cerca de dois anos, inclusive criando e dirigindo o Coro da Embaixada do Brasil, dedicado exclusivamente à música brasileira. Na Itália cursei também música para cinema em duas outras academias: Academia Chigiana di Siena e Reale Academia Filarmonica di Bologna (onde W. A. Mozart também estudou quando adolescente). No ano de 1993 me candidatei ao Premio Iila (Istituto Italo-Latino Americano di Roma) e obtive o prestigioso Premio di Studio. Após um período de volta ao Brasil, recebi o convite para estudar por um ano no Royal College of Music in Stockholm (Suécia), onde me deparei com grandes desafios, especialmente aqueles relativos à digitalização musical e aspectos mais contemporâneos da música digital. Em 2001 enviei uma de minhas obras para banda sinfônica em um concurso na Bélgica e recebi o 1o Lugar no Prêmio Comines-Warneton. A esse, outros se seguiram: Lambersart, Bilére (França), Valencia (Espanha), Susanville (EUA), Marga-Marga (Chile), Pampas (Argentina), Farulli (Itália), Shostakovich (Ucrânia) e Genzmer (Alemanha), para citar os mais relevantes. Essas oportunidades são importantes – além da premiação em si e do diploma –, pois fazem com que as obras sejam tocadas, gravadas, filmadas, editadas e apresentadas ao público, saindo finalmente da gaveta do compositor.

VP – Como você se definiria em termos de escola ou estilo no cenário da música erudita?

Andersen – Sou um compositor eclético do ponto de vista estético e nunca me prendi a uma escola ou tendência. Isso com certeza me atrapalhou no nicho específico da música acadêmica no Brasil, mas nunca dei muito importância a quaisquer grupos de pessoas que se ligam à uma escola filosófico-musical. Tenho obras de música popular, folclore, jazz, choro e até rock, passando pela música de vanguarda, minimalista e experimental. Na verdade, gosto de muitos gêneros musicais e experimento diversas linguagens, incluindo a música improvisada e gráfica. Mas a maior parte de meu trabalho é dedicada à música acadêmica, especialmente a obras para orquestra e música de câmera.

VP – Quais são os seus próximos projetos musicais no Brasil?

Andersen – Pretendo continuar dando aulas no Cefart (Fundação Clóvis Salgado), onde ministro Cursos de Extensão de grande sucesso junto aos alunos, até junho de 2023, quando, teoricamente, me aposentarei depois de 38 anos de serviços prestados ao Estado brasileiro. Do lado criativo, e paralelamente, estou reescrevendo uma grande obra muito radical, destinada à orquestra, simultaneamente à reescrita de uma peça para violão solo. Ambas as obras estão me dando muito trabalho. Pretendo continuar me candidatando a todas as oportunidades que aparecem, seja no Brasil ou no exterior, com o objetivo de mostrar um trabalho autoral que conta com 45 anos de ininterruptas realizações criativas na área da música. Esforços para chegar até os intérpretes têm sido feito quase que cotidianamente, o que também não é fácil, mas seguimos na luta até o fim.

Redes Sociais do autor, para acesso a mais informações e áudios de suas obras:

https://www.youtube.com/user/TheAmadeusprod/videos

https://soundcloud.com/vianabr2005

https://www.facebook.com/andersenvianabrazil/

https://www.instagram.com/andersenviana/

Prêmio internacional Genzmer 2022

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