Por na revista Fórum—

Acabou! Finalmente chegou ao fim, após 22 intermináveis edições em 11 anos, o The Voice Brasil. O programa que levou a estética do canto no Brasil – terra de João Gilberto – a uma gritaria sem fim teve a sua última edição nesta quinta-feira (28), com a vitória de Ivan Barreto.

O rapaz se destacou com, entre outras, a canção “I can’t stop loving you”, megassucesso do repertório de Ray Charles composta por Don Gibson. Ou seja, o programa acabou como começou, com repertório, jeitos de cantar, trinados, scatchs e malabarismos vocais típicos da música americana.

No país que tem uma das mais belas e reconhecidas músicas do planeta, o The Voice Brasil passou uma década moldando o gosto das plateias a uma estética importada. E, o que é pior, com arremedos de gênios como Ray Charles, Michael Jackson, Stevie Wonder entre outros.

Choro japonês?

Ninguém jamais virá buscar no Brasil alguém que cante como eles, que toque o repertório deles que, enfim, imite o jeitão magnífico que os negros americanos tão bem inventaram. Quando nos metemos a isso, o desastre é a imensa chatice que foi o programa ao longo desses anos. Glissandos chatíssimos em que a melodia principal se perde.

Uma imitação bisonha, enfim, que eles sabem fazer muito bem, mas não faz parte do nosso jeito, da nossa música. Você seria capaz de se interessar por um grupo de bossa nova venezuelano? Um regional de choro japonês? Pois é, nem eu.

Mas não se iludam. Acabou o The Voice (o nome já me provoca engulhos), mas vem mais por aí. Para o lugar deverá vir um reality show chamado “Estrela da Casa”. Ao menos o nome é em português.

Não se trata de nacionalismo barato, patriotada, mas sim de dignidade. Como já disse acima, nossa música popular é uma das mais belas do planeta. Nossa TV aberta, no entanto, insiste em ignorar isso. Pontos de audiência, indicadores de pesquisas entre outros parecem dizer que nos damos melhor quando imitamos os outros.

E tem sido assim em vários setores. Nosso futebol, por exemplo, até então o maior e mais bem jogado do mundo, virou isso que tá aí quando passamos a tentar jogar feito europeus.

Enquanto algo pior não chega, resta comemorar o fim do desserviço que foi à música popular brasileira o lixo do The Voice Brasil.

 

Publicado originalmente no site da Revista Fórum.


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