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Sabe-se que o Governo Lula-Alckmin foi eleito com base na frente ampla inorgânica de cunho progressista, formada para vencer a extrema-direita e o seu projeto em curso de liquidar o regime democrático. Também se revela outra obviedade: semelhante bloco, decerto sob a hegemonia social-liberal, precisou manter o entendimento e ampliá-lo, como condição para prosseguir administrando a Nação e aplicando providências de interesse nacional-popular, vez que inexiste uma situação revolucionária, mais ainda em que operem forças preparadas, motivadas, com base de massas e, pois, capazes de promoverem uma ruptura política de alma social, como nominou Marx o início da passagem socialista.

Eis porque o portal Vereda Popular saudou a campanha do primeiro mandatário e prossegue apoiando as suas intervenções, indubitavelmente benéficas para os “de baixo”, como a que aumenta o valor real do salário mínimo, a principal medida social em aplicação. Tal postura, que frequentemente perpassa os Editoriais, de modo nenhum significa um alinhamento burocrático a todas e quaisquer medidas ou declarações oficiais. O mecanicismo prejudicaria mais do que favoreceria os aliados hoje alçados ao Palácio do Planalto. Assim, diga-se: o Ministério do Planejamento está sob a direção de um socialdemocrata que delineou com nitidez a sua convicção ideológica e que atua com desenvoltura.

Por exemplo, Haddad foi uma peça importante na formulação e aprovação da pequena reforma tributária, que melhorou a estrutura geral das relações fiscais. Ademais, agiu corretamente ao comemorar o sucesso da plataforma “Desenrola” – publicamente lançada em 9/10/2023 –, que beneficiou nada menos do que 2,2 milhões cidadãos endividados junto aos bancos, mediante a renegociação de R$20 bilhões correspondentes a 2,8 milhões de pequenos contratos. Os números comprovam que os descontos colhidos sobre as dívidas contraídas são de R$1,8 bilhão, quando consideradas somente as três primeiras semanas de atividade, um corte médio em torno de R$820,00 para cada pessoa.

Para todos é bom e, para quem muito necessita, melhor ainda. No entanto, mesmo ao valorizar o alcance de medidas sociais para os segmentos mais pobres das classes dominadas, seria desaconselhável superestimar os efeitos estratégicos de mudanças limitadas e ignorar certas contradições – ou duplos sentidos – que se reproduzem intrinsecamente sob a reprodução metabólica do capital, mormente quando controladas pelos conglomerados monopolistas-financeiros e na economia dependente. Ninguém – autoridades, muito menos – deve adotar o princípio de negar qualquer investimento estrangeiro, mas não cabe festejar, como referência magna, o critério do chamado mercado mundial.

Por quê? Uma celebração efusiva – no estilo “complexo de vira-latas”, imortalizado por Nelson Rodrigues –, mesmo que gere momentaneamente prestígio pela régua dos magnatas, simultaneamente anuvia o real, deseduca os sujeitos e dissemina ilusões. Ao comentar, em 13/11/2023, a captação de R$2,00 bilhões pelo Tesouro Nacional com “títulos sustentáveis” à taxa de 6,5% ao ano, conforme anúncio do Broadcast mantido pelo Grupo Estado, o ministro classifica o resultado como “bastante expressivo”: representa um spread correspondente a 180 pontos, “típico de países com grau de investimento”. A seguir, afirma: “É um dado relevante, porque o mercado internacional reconhece o Brasil”.

A outra face da moeda é o endividamento no Estado, que suga os recursos da poupança interna, dilapidando as condições para um desenvolvimento com soberania e conquistas sociais. No caso em foco, inclina mais ainda o pêndulo do poder concreto em direção a instituições como J. P. Morgan, Itaú BBA e Santander, as principais compradoras dos novos “papéis” emitidos. Pelo que se conhece da crônica política, os segmentos financeiros dos arrematadores não tiveram um papel determinante nas últimas eleições gerais, que, aliás, redundaram na derrota ultraliberal. Portanto, seria demasiado estranho que passassem a ditar ou a influenciar os caminhos do Brasil, na prática ou no discurso.

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