Por Hora do Povo*—
Em entrevista à Hora do Povo, Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) declarou que “com a reforma trabalhista e da Previdência, e as ações que ameaçaram de morte o movimento sindical, se tornou uma necessidade objetiva aprofundar e cristalizar essa unidade da CTB com a Nova Central”.
Para o líder sindical “a reforma trabalhista deu formato de lei ao trabalho análogo à escravidão” e “a reforma da Previdência feriu de morte a aposentadoria”. Segundo Araújo, “o apoio ao presidente Lula é uma necessidade. Vamos ter que ampliar a pressão e colocar para fora o Campos Neto. Vamos fazer o Haddad ouvir que não dá para ficar subalterno ao Centrão”.
Leia a entrevista:
HP – As reformas trabalhista e a da Previdência trouxeram mais equilíbrio nas contas do Estado?
Adilson – As reformas trabalhista e da Previdência visaram fundamentalmente beneficiar os rentistas. Seus próceres atuaram com força para o desmonte da CLT. Essas duas reformas foram as maiores fake news de nossa história. Elas foram anunciadas como necessárias para criação de empregos, combate à inflação e baixar a taxa de juro. Essas encomendas não chegaram, nem nunca chegarão.
A reforma trabalhista deu formato de lei ao trabalho análogo à escravidão. Isso tudo é trágico porque é no curso desta reforma que montanhas de dinheiro foram desviados para os bancos, que passaram a lucrar mais do que sempre lucraram. Enquanto diminuiu a massa salarial, elevou a informalidade e a precarização.
A reforma da Previdência fere de morte a aposentadoria. Agora é muito mais difícil o trabalhador conseguir se aposentar. Precisa trabalhar muito mais tempo para ganhar muito menos. O resultado também é muito prejudicial para as prefeituras. Dos 5.570 municípios, pelo menos 4 mil recebem mais dos repasses da Previdência do que do Fundo de Participação dos Municípios. Esse dinheiro volta rápido para os cofres da prefeitura. São vinte e dois milhões de aposentados que recebem o salário mínimo. Ninguém guarda. Vai para a quitanda, para a feira e para a farmácia. Uma redução drástica nesta arrecadação paralisa a economia municipal.
HP – Mas a Previdência não estava deficitária?
Adilson – A Previdência é tripartite e universal. Um patrimônio do povo brasileiro. O governo, os empresários e os trabalhadores, cada um tem que contribuir com sua parte. O governo não só não contribui como tira dinheiro. Por outro lado, é preciso combater com mais rigor a sonegação por parte dos empresários. Os bancos querem privatizar a Previdência e mudar o sistema para capitalização, isto é, colocar esse dinheiro, que é do trabalhador, na especulação financeira. Guedes, ministro Bolsonaro, fez isso no Chile e o país bateu recorde de suicídios entre as pessoas idosas. As reformas merecem ser revogadas. Rasgar essas reformas e jogá-las na lata de lixo.
HP – Moacyr Auesvald, presidente da Nova Central, disse que existe “um namoro” com a CTB e que, na reunião da executiva da entidade, foi aprovado a proposta da realização de iniciativas conjuntas. Por parte a CTB a questão também está sendo discutida?
Adilson – A prioridade na relação com a Nova Central não é coisa de agora. Nossa unidade está ao nível programático, dede o nosso nascedouro: na defesa do sistema de unicidade sindical, do sistema confederativo, da Justiça Trabalhista e da contribuição sindical.
No entanto, a reforma trabalhista e da Previdência, a cartilha regressiva que ameaçou de morte o movimento sindical, tornou uma necessidade objetiva aprofundar e cristalizar essa unidade. Temos muita afinidade para empreender uma agenda unitária, pela retomada de um Projeto Nacional de Desenvolvimento Econômico, com aceleração do investimento público, capaz de estimular o investimento privado, pela reindustrialização do país, pela construção do complexo industrial da saúde, com autossuficiência do petróleo, pela centralidade do trabalho, em defesa da soberania nacional e da democracia, e pela universalidade do serviço público com valorização do servidor.
HP – De onde vem essa resistência ao investimento público?
Adilson – Para o ex-ministro Meireles “o custo da Constituição não cabe no Orçamento”. A classe dominante brasileira é hostil aos trabalhadores. As pressões sobre o governo brasileiro vão no sentido de escancarar o tesouro aos bancos: a emenda constitucional 95, que impôs o corte de gastos, na verdade, corta gastos com o povo e prioriza o pagamento de juros. O Presidente do Banco Central, como diria o ex ministro Magri, se torna “imexível” e advoga os interesses externos e dos financistas. Temos a maior taxa de juros do mundo, o crédito não chega para quem quer produzir, especialmente para o pequeno negócio. No mundo em crise, as economias centrais fazem o inverso do que recomendam aqui para nós: reduzem juros e ampliam os investimentos para aquecer a atividade econômica.
HP – Nesse quadro, como se dá o apoio ao presidente Lula?
Adilson – O apoio ao presidente Lula é uma necessidade. A subtração do governo Dilma arou a estrada para uma agenda ultraliberal que fez estragos principalmente para o povo humilde. Vamos ter que ampliar a pressão para botar para fora o Campos Neto. Ampliar a pressão para que o Haddad ouça que não dá para ficar subalterno ao Centrão, vamos crescer a pressão contra o cartel das sete famílias que dominam 90% das redes de televisão, cedidas por concessão pública. Queremos o nosso canal.
Temos que fazer uma reforma tributária progressiva. Quem ganha mais paga mais. Começar pela isenção da tabela do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais, que hoje é tribunato em 27,5%.
Já se passaram dez meses. O governo precisa de apoio da população, do apoio do Congresso e ter sustentação para mudar a política econômica. Hoje ela está voltada para o envio de recursos para o estrangeiro. Mas tem que estar voltada para a reconstrução do Brasil e melhoria de vida do povo. Mudar o foco da macroeconomia significa, antes de tudo, controlar o câmbio, válvula por onde se esvaem nossas riquezas. É preciso controlar a inflação, poque dela deriva a carestia dos alimentos.
O tempo tempera a alma. Precisamos elevar a autoestima do nosso povo. Eu sou muito afeito à ideia de ganhar as ruas, convocar uma grande greve geral, depois do carnaval, no mês de março, em defesa de um projeto de reconstrução do país.
Entrevista publicada originalmente no site Hora do Povo.
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