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Com a mesma pressa que adota para chicotear os governos e autoridades nos momentos em que a crise do capital revela os seus índices, apuros e mazelas, o mercado – isto é, os lobbies, os comentaristas e os agentes intelectuais que servem à fração hegemônica do capital, formada pelos conglomerados monopolista-financeiros – agora celebra o crescimento no PIB acima do esperado. Assim, a mudança de “humor” foi mencionada pela Reuters, depois divulgada pela m.br.investing.com, além de outras mídias, não sem relativizar o feito econômico ao frisar o lado ruim da notícia, pela manchete bombástica de quarta-feira, em 6/9/2023: “arrecadação cai, turvando horizonte para ajuste fiscal”.

Ocorre o dilema típico do conúbio entre o empirismo e o politicismo – ambos vulgares –, cujo sujeito tem que festejar os números e, concomitantemente, criticar os que julga feitos pelos “inimigos da sociedade aberta”, como Popper, onde habitam e por quaisquer motivos. A bola da vez atende pelo nome de Lula, chegando ao vice Alckmin por tabela. Eis a miséria teórico-metodológica, destroçada por Marx em Glosas Críticas Marginais ao Artigo “O Rei da Prússia e a Reforma Social”; De um prussiano, 1844: se a política origina tudo, como demiurgo da vida social e de seus fenômenos, então seriam elogiáveis os governos em que a economia sobe, mas detratáveis os contemporâneos a ciclos adversos.

Com tal expediente idealista – em que a consciência precede o ser –, os analistas conservadores matam, com a mesma pedrada pragmática, os dois coelhos que os incomodam: escondem as determinações do metabolismo burguês vigente, ao mesmo tempo em que ficam de mãos livres para fustigar os desafetos e glamorizar os protegidos que mereçam. De fato, há uma boa notícia para os brasileiros em 2023, que pode representar uma recuperação, talvez até consistente: a elevação do PIB no primeiro semestre foi 2,7%, ficando em 6º lugar no mundo inteiro e 5º no chamado G20. No entanto, é precipitado concluir o fim da crise conjuntural na economia interna, por quatro principais razões.

Primeiro, é preciso considerar que a base referencial de comparação é muito baixa, pois o PIB padeceu no período em que a reação bolsonariana e seus asseclas ultraliberais detiveram nas mãos as rédeas político-econômicas, impondo a expansão paroxísmica dos efeitos pandêmicos sobre a produção e a circulação. Ademais, a permanência internacional da Fase B – ou estagnação – em que se mantém a presente Onda Longa do capitalismo, considerada no padrão Kondratieff, acopla-se hoje ao discreto crescimento estadunidense, à depressão na Zona do Euro e às demais dificuldades que afloram no Planeta inteiro, quadro que sem dúvida repercutirá no Brasil, direta ou dissimuladamente.

Como se não bastasse, o empurrão veio dos ramos industriais mais presentes nas últimas décadas – extração mineral e, com recorde na safra de grãos, agropecuária –, que além de produzirem fora das maiores cidades, onde se localiza o grosso da força laboral e do consumo interno, são suscetíveis a um mercado externo competitivo e com liquidez instável. Por fim, reconhecendo a política oficial como ação de retorno – que até certa medida estimula o dinamismo econômico, mas nunca substituindo a sociedade civil –, sublinhem-se óbices poderosos no Congresso e na burocracia estatal, inevitáveis, mas paralisantes, como também a ortodoxia neoclássica incrustrada no Bacen, que a sabota.

Portanto, em vez de celebrar ingenuamente um êxito que ainda é incerto, melhor é combater, junto às largas massas populares, por medidas capazes de melhorar os salários reais, bem como as condições de vida para uma grande multidão produtora e consumidora, integradas em um plano verdadeiramente nacional para eliminar o desemprego e promover resolutamente o desenvolvimento nacional, com soberania e progresso na esfera social. Em outras palavras, será preciso enfrentar e vencer decisivamente as forças mancomunadas com as potências imperialistas e o capital monopolista-financeiro, mormente a fração reacionária que hoje somente sabe fazer oposição ferrenha e sistemática.

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