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Realizou-se, nos dias 21-24/8/2023, a 15ª Cúpula do Brics. Paralelamente, organizaram-se várias reuniões bilaterais ou multilaterais entre os chefes dos estados e outros representantes. O Encontro – menosprezado pela mídia monopolista-financeira, que publicou notícias protocolares ou versões anódinas, quando não contraposições veladas ou indiretas no afã de minimizar os efeitos que mais lhe incomodam – foi um acontecimento geopolítico relevante. O Brasil esteve no rol dos protagonistas-chave não apenas por causa dos compromissos referentes ao posto central que ocupa no New Development Bank, como também pela influência planetária que o seu Governo Federal conseguiu constituir.

As expectativas sobre os entendimentos e as providências foram enormes. Para ficar nos destaques, estavam previstos pelo menos três grandes pontos para o debate: a expansão do bloco além dos cinco membros iniciais, um respaldo maior às questões africanas e a criação da moeda comum. Evidentemente, semelhantes assuntos exigiram encaminhamentos adequados ao nível de consenso em cada caso. Todavia, os conteúdos indicados na pauta já sugeriam que o Fórum de Joanesburgo materializaria o início formal de uma inflexão nas relações internacionais. Paradoxalmente, a ausência de Putin contribuiu para lhe dar um tempero adicional, pondo em relevo as turbulências e os percalços.

Inexistiam motivos para temer que a expansão no rol de nações – desejada e inevitável – gerasse dificuldades para os acordos e a união. Em política, inquietações desse naipe são corriqueiras, especialmente na esfera internacional, já que as características e os interesses dos atores são mais rígidos e ampliados. Certamente, as providências exigem conversas e mediações dificultosas. Todavia, intimidar-se perante o desafio, além de postura recuada, só adiaria desacordos e contribuiria para transferir os dissensos aos momentos cruciais da prática, provocando prejuízos. Para que se assombrar, defensivamente, com a diversidade? Agora, os acordos resultarão em maiores potência e coesão.

Eis porque os compromissos adjacentes adquiriram uma importância equivalente à espinha dorsal do evento. A própria reunião dos 40 países convidados – com a presença de autoridades nacionais tendentes a ingressar na jovem comunidade – acarretará desdobramentos benéficos em várias regiões – africanas, sul-americanas, caribenhas e asiáticas. Mitigando as ressalvas iniciais, Lula, na terça-feira, dia 22, antecipara sua opinião de que a “relevância” de “nossos países […] vai crescer com a entrada de novos membros plenos e parceiros de diálogo”. Tal postura favoreceu e preparou a consideração de Celso Amorim, o Assessor Especial da Presidência, com a sua manifestação de braços abertos.

Logo, a Declaração de Joanesburgo II correspondeu aos anseios principais dos participantes. A integração do Egito e da Etiópia contemplou a reivindicação africana. O acesso do Médio-Oriente – Irã, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos – consolidou a nova realidade. A presença dos vizinhos argentinos completou a difusão, embora tenha deixado estagnada, por enquanto, a fila dos pretendentes que desejam caminhar mais rapidamente, como direito e toda razão. Quanto à moeda única, fica o compromisso de que os segmentos especializados de cada governo prepararão e apresentarão as devidas sugestões, com a profundidade, o cuidado e o prazo que a característica da iniciativa exige.

O documento, como era esperado, se definiu sobre os atritos geopolíticos, fixando atitudes claras sobre os seguintes contenciosos: repudiou as “medidas coercivas unilaterais”; defendeu a “resolução pacífica do conflito” na Ucrânia, mediante o diálogo e as formas negociadas; reiterou, com ênfase, “o princípio” de “soluções africanas para problemas” locais; preconizou a “necessária reforma” da ONU, inclusive a democratização no Conselho de Segurança, e da OMC; reiterou que a “questão nuclear iraniana” seja equacionada por meios “diplomáticos”; e denunciou as “barreiras comerciais, incluindo” as “impostas por certos países desenvolvidos sob o pretexto de combater alterações climáticas”.

Tudo indica, portanto, que a dilatação do Brics trará vantagens aos povos segregados e discriminados pelas grandes potências que só querem manter a monopolaridade. Simbolizará, também, um anteparo ao belicismo da Otan. Reforçará, por fim, uma plataforma influente, aberta e flexível, que atraia certos polos regionais disputados pelo pesado assédio estadunidense, mas também passíveis de acolher certas iniciativas de cooperação, como a Turquia e a Indonésia. Explica-se porque a Casa Branca e a UE viram no Brics o alvo preferencial de hostilidade. Podem até, atormentados pela “dissonância cognitiva”, demonizá-lo exageradamente, mas sabem que precisarão travar uma disputa real.

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