As postulações presidenciais, assim como aos governos estaduais e parlamentos, foram lançadas como pré-candidaturas ou estão em vias de o serem. A luta real de classes, na sua expressão política, desloca-se rapidamente para o processo eletivo geral, que se converterá na forma principal do contencioso conjuntural e dos rumos imediatos a serem seguidos “na ordem” pelas instâncias executivas e legislativas do Estado burguês, influindo inclusive sobre o futuro do regime democrático. Inexiste uma situação revolucionária, ou até manifestações de massas com maior ressonância e capazes de pressionarem os polos decisórios “de cima”, o que torna o pleito mais importante na correlação de força.
O cenário exibe o movimento frenético de partidos e pretendentes na busca da melhor inserção possível para disputar. Lula, o melhor trunfo atualmente no campo proletário e popular, protagoniza na disputa largos entendimentos em busca de uma frente ampla das oposições ao protofascismo, ainda que informal e gelatinosa. Os próprios dilemas e iniciativas em face da Federação partidária e do Vice integram positivamente o escopo dos ajustes, acordos e coalizões necessários à maior unidade possível. As dificuldades, porém, continuam inclusive no interior do campo dito popular, haja vista o interdito apresentado por segmentos estreitos, que seguem no roteiro de Alice no País das Maravilhas.
Tais setores antepuseram “motivos” e óbices à construção da frente multifacetada, propondo em seu lugar outra nomeada como “de esquerda”, que nunca foi construída e sequer tentada. Claro está que procuravam substituir a tática eleitoral pela meta orgânica permanente – ou estratégica – de formar o Bloco Histórico, “trocando alhos por bugalhos”. Houve até quem, usando mais fraseologias, pregasse uma “frente dos revolucionários”, sem justificar se teria como fim abandonar o sufrágio, em atitude abstencionista, ou apresentar candidaturas puramente anticapitalistas, em postura por igual isolacionista. Hoje, após “guardarem a viola no saco”, desensarilham o seu derradeiro sabre: um “Programa”!
Quais revolucionários, democratas ou progressistas em sã consciência poderiam ser contra, genericamente, um Programa? Os comunistas possuem uma tradição a respeito. No caso do PRC, além dos indicativos estatutários de princípio, há o Programa Máximo, que delineia o propósito socialista rumo à sociedade comunista, e o Programa Mínimo, de cunho democrático, anti-imperialista, antimonopolista e antilatifundiário. Igualmente, o CC procura sempre apresentar, em cada período na luta entre classes, uma Plataforma, ferramenta mais adequada para concretamente se abordarem os embates que abarcam massas localizadas ou de milhões, como patamar tático nuclear nas conjunturas.
Tudo isso traz à baila o beabá dos acúmulos realizados pelos partidos marxistas em sua longa tradição de lutas contra o capital e seus representantes: uma coisa é o Programa, que se classifica em Máximo e Mínimo; outra é a Plataforma, que sintetiza os anseios e reclamos consensuais em uma determinada esfera do embate, como nas frentes, federações ou coligações, assim como nas campanhas para cargos nas instituições públicas e nas entidades populares. Em síntese, um partido precisa do seu Programa, mas os demais níveis carecem de plataformas. Sendo candidaturas, necessitam plataforma e plano de ação parlamentar ou governo. As confusões conceituais facilitam os equívocos.
Um partido sem Programa é anódino e sem coluna vertebral. O mesmo se pode afirmar sobre uma frente sem Plataforma. Ambos teriam corpos sociais com alma exclusivamente política. Todavia, uma candidatura jamais deve ter um Programa, pois se o tentasse decairia em querelas antagônicas, mesquinhas e sem fim, suicidas, pois a sua alma social, que também fala, exprime a diversidade irredutível dos apoios e dos eleitores que já tem ou pretende reunir. Por melhor que seja o desejo dos grupos, suas “condições de aliança”, quando se ancoram em um Programa externo a si – pois lhes faltam os próprios –, somente aguçam os conflitos no seio do povo e com aliados mais ou menos eventuais.