Por John Kennedy Ferreira—


Partiu não tem placa de bronze não fica na história,
Sambista de rua morre sem glória,
Depois de tanta alegria que ele nos deu,
Assim, um fato repete de novo,
Sambista de rua, artista do povo,
E é mais um que foi sem dizer adeus.
(Geraldo Filme, Silêncio no Bixiga)

Em 1979 quando começamos reorganizar os movimentos populares e o PT, não tínhamos muitos lugares para fazer reunião. O Teatro Oficina era o lugar, “nossa casa”, quando começamos a campanha para rerorganizar a UMES-SP, muitas vezes fizemos reunião no Oficina. O festival de teatro amador de SP, organizado pela Apeoesp, junto com o Grupo União Olho Vivo, era no Oficina: reuniões, grupos de trabalho, luta por moradia, seminário do PT, dos movimentos populares eram no Oficina. Quando os empresários tentaram comprar o bairro e transformar naquilo que fizeram com a Barra Funda, Brás e Mooca, houve grande resistência, nos reuníamos no Oficina, com o Zé Celso à frente.

Conheci Zé Celso, desde que tinha 14 ou 15 anos, era uma figura legal, alegre, combativa, morava ali na rua Japurá, falava com todo mundo nas ruas, nas feiras, botequins e na Vai Vai. Às vezes aparecia nas reuniões do PT, ele era anárquico, não respeitava pauta, chegava e fazia a saudação bacante “Evoé” e dizia: “gente, precisamos fazer algo sobre isso ou aquilo”.

Seu irmão, Luís Antonio, foi morto por homofobia, Zé Celso realizou um verdadeiro combate pela sua memória. Fez uma das falas mais bonitas que vi em defesa da vida e da felicidade, na PUC, ao lado de Edgar Carvalho e Edson Passetti.

O ano retrasado fui assistir Navalha na Carne (de Plínio Marcos, outro grande do Bixiga), procurei por ele, não estava no teatro (TE- ATO, como gostava de falar), queria dar um abraço e saber detalhes do embate com a direita e o fernando holiday (em minúsculo).

Não sou de teatro, não conheço bem as técnicas etc. Um colega na época do movimento estudantil foi trabalhar com o Zé, me contou que nunca tinha trabalhado tanto. Uma colega que lecionava comigo, nos anos 2010, fez Os Sertões, peça de 24h, me disse que nunca tinha estudado tanto na vida.

Em todas as lutas do povo brasileiro: contra a ditadura, pela Anistia, Diretas, Impeachment do Collor, apoio às Greves de trabalhadores e lutas sociais, combate a Bolsonaro e pela vitória de Lula, Zé Celso esteve presente. Zé foi preso, torturado e exilado! O Teatro Oficina formou centenas de atores e diretores, é uma das maiores trincheiras do Povo paulista e brasileiro, e Zé foi seu grande animador e agitador cultural.

Soube que tinha casado de novo (aos 86 anos!), estava hiper feliz e veio o acidente, as notícias e as informações diziam que estava se recuperando.

Hoje com certeza nossa Escola sai, nosso Surdo tocará sozinho pelas ruas do Bixiga.

O Bixiga está de Luto!!!
Morreu um Gigante!!!
Evoé, Zé Celso Martinez!!!


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