O portal Vereda Popular resolveu antecipar o Editorial regular de sexta-feira, considerando a premência de orientar os leitores, assim como esclarecer para os aliados a conduta que julga mais adequada para os procedimentos em curto prazo na batalha do returno. Tem como lugar de partida imediato a complexa e multifacetada situação criada pelo desfecho da primeira rodada, no domingo passado, que garantiu a vitória do campo democrático e progressista pela vantagem de 5%, com a votação expressiva de 57.257.473, mais de seis milhões acima do candidato extremo-direitista. Lembre-se que o falangista jurara, por duas vezes, que teria “no mínimo 60%” dos sufrágios em uma “eleição limpa”.

Portanto, além de parcialmente vitoriosa, na etapa final e decisiva sai à frente a chapa Lula-Alckmin. Todavia, o pleito é geral, mexendo na composição dos Governos Estaduais e do Congresso Nacional. Note-se, a propósito, que nas demais esferas institucionais houve avanços à esquerda. Em 2022, as Federações PCdoB-PT-PV e PSOL-Rede, que têm, respectivamente, 68 e 10 parlamentares na Câmara, respectivamente aumentarão para 79 e 14. No Senado, suas bancadas, somadas, subirão de 8 para 10 em 2023. Ademais, a Federação Brasil da Esperança elegeu governadores no Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, continuando a disputar na Bahia, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.

Tais números desativam o derrotismo. São, porém, insuficientes para justificar o desastroso apelo ao “voto útil”, que descaracterizou a ataque central na reação bolsonariana e agravou contradições com futuros aliados, como alertara o Editorial passado em Vereda Popular. Igualmente, mostrou quão ilusório foi o “já ganhou” naturalista, que se reproduz como se o quadro já estivesse cristalizado irreversivelmente: os aportes chegariam como águas fluviais dirigindo-se ao mar pela força da gravidade. Olhando-se o cenário além do alcançado pela fraseologia, é forçoso constatar o desempenho frágil de outros partidos com extrações populares, a exemplo do PDT e PSB, cujas bancadas murcharam.

Em contraste, o bloco da ultraconservação falangista cresceu visivelmente nas duas casas legislativas de Brasília, em desfavor das outras variantes na sociedade política burguesa – liberais, nacionalistas, conservadores, mais ou menos fisiológicos. Ademais, a hiperdireita foi conduzida, já no primeiro turno, aos governos importantíssimos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, assim como se postou privilegiadamente para o embate paulista. Logo, efetivou seus objetivos parciais, potencializou algumas vantagens psicossociais e saiu do primeiro turno com mais força do que adentrou, com reflexos imediatos na correlação entre forças eleitorais. Eis as condições reais, à revelia de sonhos e vontades.

Claro está que o triunfo das oposições ao final de outubro é possível. Até provável. Sobretudo, é necessário para os interesses do povo brasileiro, inclusive nas questões nacional e mundial. Nada, porém, está inscrito em um destino já traçado pela objetividade, pela moralidade, pela justiça ou por alguma entidade mística. O portão no Palácio do Planalto está escancarado; porém, a luta para subir a rampa que fica no seu caminho será íngreme, acidentado e superlativamente áspero. Lembre-se que os piores inimigos do proletariado e aliados exprimem as frações mais reacionárias dos monopólios financeiros, hegemonizando largos setores inferiores da burguesia, mormente o latifúndio capitalizado.

São agrupamentos perigosos e brutais, que apologizam o assassinato e a tortura. Vêm organizando milícias paramilitares, além de arrebanhar, demagogicamente, parcelas sociais entre os “de baixo”, como provam os votos que amealharam. Estabeleceram o controle total sobre os aparelhos do Governo Central, que usam de forma despudorada e sem limites. Sempre tentaram desfechar um autogolpe, sem o conseguirem, mas jamais o abandonaram como propósito. Se permanecerem nos postos atuais, com ainda maior base parlamentar, certamente atacarão, com muito mais força do que lograram fazer, as instituições democráticas, para liquidar os direitos fundamentais e ditar um regime fascista.

Sem prejuízo às políticas de longo prazo para barrar definitivamente o protofascismo – que de modo nenhum se restringem às eleições –, urge corrigir as deficiências e promover adequações na linha de campanha. Inicialmente, ampliar os entendimentos e firmar os acordos necessários para vencer a eleição e garantir a posse, o que implica, nas unidades federativas onde resta o pleito, apoiar os postulantes que disputem contra candidaturas do séquito bolsonarista. Os diálogos já resultam em bons frutos, mas precisam de maior formalidade, como a Mesa Democrática em torno de uma plataforma consensual e unitária – em nível nacional e ainda nos estados –, que perdure na dobra da conjuntura.

Concomitantemente, ajustar o enfoque sobre o problema chave das liberdades políticas, civis e sindicais. Em vez de falar em um confuso “retorno à democracia”, defender sem meias palavras o regime democrático de fato existente, contra os que o querem destruir, apontando provas de atos e proclamações autocráticos. Ato contínuo, arguir a questão nacional com a mesma convicção e transparência, denunciando crimes lesa-pátria perpetrados e prometidos pelo Governo entreguista com disfarce verde-amarelista. Exemplos abundam nas declarações ou ações para privatização da Eletrobrás, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e até venda – pasmem – de praias para os magnatas.

Por fim, organizar grandes atos públicos de massas no Brasil todo, mormente nos pontos nevrálgicos – triângulo São Paulo, Rio e Minas. Para tanto, incentivar convocações pelo vasto espectro ideológico dos partidos que apoiam a candidatura oposicionista, e ações pela militância de agremiações ou movimentos populares. Trata-se de valorizar o protagonismo das multidões, sem os quais haveria chance de atingir a vitória, mas seria duvidoso garanti-la. Basicamente, assumir que a campanha, por cima e por baixo, constitui uma dimensão da luta entre as classes ou suas frações, lembrando que as violências ou ameaças devem ser defrontadas com destemor e coragem, coletiva e individualmente.

Frente mais ampliada para eleger Lula-Alckmin e governadores democratas!

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