Perante a inexistência de uma situação revolucionária estabelecida ou em vias de se configurar, os interesses do proletariado e das classes populares – traduzidos espontaneamente nos anseios das massas, mesmo com a contribuição de ações políticas organizadas – imbricaram com a disputa eleitoral. Como alertaram os documentos partidários, a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”, em que pese o seu efeito positivo para denunciar o Governo Federal, fracassou como intenção de apear prontamente a chefia miliciana do “poder” – como confusamente se diz – pela via, ora da renúncia, ora do impeachment, ora da Justiça, ora dos levantes na rua, ajuntados e às vezes nem tanto.

Triunfa, portanto, a linha do PRC, que – desde a vitória da extrema-direita em 2018 – vem apresentando a meta nuclear e claríssima de colocar um fim no Governo protofascista e suas políticas, utilizando-se de quaisquer formas e métodos afirmados nas manifestações democráticas e progressistas concretas, inclusive a vitória pelo sufrágio em 2022. Para tanto – sem poupar críticas e argumentos contrários às proclamações voluntaristas, estreitas, sectárias e isolacionistas – manteve bem alto a bandeira da frente ampla, chegando até a propor a Mesa das oposições nacionais. Na prática, tal postura vem afirmando-se como a mais consequente, capaz de garantir o desígnio tático central.

Todavia, persistem as dispersões. Exemplo é a inflação de nomes. Agremiações buscam se fortalecer, lançando postulantes para todo gosto na quimera de reunir um campo fiel ou negociar o melhor quinhão possível, intercalados com benefícios inconfessáveis de autopromoção, carreirismo e fisiologismo individuais. Até agora já foram formalizadas sete pré-candidaturas. Estima-se que até o mês de março aparecerão mais quatro, entre as quais as do ex-presidente Lula e do mandatário falangista – que são fortíssimas pretendentes a polarizar o embate, permanecendo no turno derradeiro –, sem falar de Moro e Pacheco, com certas condições para influenciar na correlação de forças.

Todavia, jamais se deve comemorar o fato em si, objetivo. As antigas populações, quando as comunidades primitivas estavam em vias de serem superadas, festejavam os equinócios e solstícios não por suas meras existências, mas porque marcavam momentos fundamentais na produção e reprodução da vida – como plantar, colher, fazer ferramentas ou preparar-se para os rigores climáticos –, ainda que apenas intuitivamente. Hoje, as consciências dos partidos à esquerda e de seus militantes precisam valorizar não a brecha de conter a reação bolsonariana, vencer as eleições, garantir a posse do escolhido e isolar o revanchismo da reação, mas o melhor caminho para se dirigir a tais finalidades.

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