O assalto ao patrimônio e aos interesses nacionais mira, desta feita, nada menos do que a Petrobras, visando a privatizá-la na íntegra. Os seus inimigos se preparam para ofertá-la despudoradamente aos magnatas, especialmente ao capital monopolista-financeiro que opera nas cadeias produtivas e no mercado internacional do petróleo. Longe de uma surpresa, o anúncio dos conhecidos vendilhões só traz como novidade a data, pois acontece na véspera das eleições que ocorrerão daqui a cinco meses, talvez com as últimas luzes do Governo falangista sendo apagadas. O presidente Bolsonaro sempre declarou fidelidade aos reclamos que sustentam e mantêm a sua dupla com Paulo Guedes.

Eis porque o novo ministro de Minas e Energia, o fantoche Adolfo Sachsida, prestimoso em cumprir a primeira ordem recebida no Planalto e antes mesmo de sentar na própria cadeira, pediu no dia 12, ao colega da Economia – com registro em vídeo largamente veiculado –, estudos sobre os caminhos para privatizar imediatamente a Petrobras e a Pré-Sal Petróleo S.A. De quebra, defendeu ainda mais pressa na destruição da Eletrobras. Ostentando cara de paisagem, como se tomado por surpresa e nem tivesse participado na combinação do enredo, o entreguista recebeu feliz o documento solicitante, prometendo agir com rapidez incomum: Perante uma crítica de sindicalistas, elevou a voz com semblante apoplético: “quero […] encaminhar o processo”.

A iniciativa teve duas motivações. De um lado, a fim de manter os seus apoios por cima quando a burguesia demonstra cisões internas, tenta reafirmar sua vinculação, inclusive a de suas hostes organizadas, com a plataforma neoclássica das empresas imperialistas – sobretudo norte-americanas – e associadas, em nome das quais falam os ideólogos, políticos e tecnocratas ultraliberais. De outro, procura disputar os segmentos atingidos pela elevação astronômica no preço dos combustíveis, mormente as camadas médias, os caminhoneiros autônomos e as pequenas ou médias empresas transportadoras, com reflexos no processo inflacionário e na carestia, que afetam e flagelam o povo inteiro.

A dupla motivação expõe o cinismo e o discurso de aporias. O chefe-mor da reação afirma que a Petrobras é culpada pelas constantes altas nas tarifas de óleo diesel, gasolina e gás, mas sempre indicou para seu presidente os nomes clara e confessadamente favoráveis à política de preços alinhados ao mercado internacional cotado em dólar. Ou seja: provoca uma doença e quer matar o paciente para curá-la. Todos sabem que os lucros exorbitantes obtidos pela empresa foram induzidos pelo Governo Federal, visando a favorecer grupos acionistas privados, aqueles mesmos que deseja transformar em donos exclusivos do parque petrolífero interno. Trata-se, pois, de mais uma tamoia de última hora.

Em antagonismo com a orientação governamental – cativa da lógica centralizadora e concentradora de capitais sob a hegemonia financeira contemporânea – bem como as evidências na prática política do primeiro mandatário e seus acólitos, o novato Sachsida teve o descaramento máximo de afirmar que as privatizações resultariam na “libertação do povo brasileiro contra os monopólios”. Será que haveria pessoas, fora dos círculos extremo-direitistas que reproduzem as fake news absurdas, capazes de acreditar em tamanha mentira? Os seus autores zombeteiam das pessoas comuns, quando procuram camuflar sua óbvia e única responsabilidade pelos preços estratosféricos dos combustíveis.

Surge, assim, mais um argumento para derrotar o continuísmo em outubro. Aliás, os candidatos comprometidos com as riquezas nacionais e o patrimônio público precisam manifestar sua opinião. A sandice já foi refutada pelo ex-presidente Lula: “Quem se meter a comprar a Petrobras vai ter de conversar conosco depois das eleições. Parem de tentar vender a Eletrobras. O Programa Luz Para Todos, que custou ao povo brasileiro R$ 20 bilhões, só pôde ser feito porque a empresa era pública. Não tem de privatizar os Correios, a Caixa Econômica e o BNDES. Parem de vender as coisas que já estão prontas”. No entanto, cabe principalmente à sociedade civil a mobilização para barrar o delito em marcha.

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