Por Daniel Veiga

A Comuna de Paris de 1871 foi a primeira experiência de governo proletário da história. Mesmo ocorrida há 150 anos, ela continua atual, e seu estudo e conhecimento, associados aos de outras revoluções, contribuem para desnudar conhecidas e velhas falácias de fim da história. A experiência da Comuna de Paris permite ao proletariado compreender que não só é possível, mas é um dever fundamental e um direito lutar por seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, que continuam presentes e é a seiva que levará à construção de uma nova sociedade.

Como se sabe, alguns meses antes da Comuna, no outono de 1870, Marx, pondo de sobreaviso os operários parisienses contra o perigo, demonstrava-lhes que qualquer tentativa para derrubar o governo era uma tolice ditada pelo desespero. Mas quando, em março de 1871, a batalha decisiva foi imposta aos operários e estes a aceitaram, quando a insurreição se tornou um fato consumado, Marx saudou com entusiasmo a revolução proletária. Apesar dos seus sinistros prognósticos, Marx não teimou em condenar por pedantismo um movimento “prematuro”, como o fez o renegado russo do marxismo Plekhanov, de triste memória, cujos escritos instigadores e encorajavam à luta os operários e camponeses em novembro de 1905, e que, depois de dezembro de 1905, gritava como um verdadeiro liberal: “Não deviam pegar em armas!”

Marx não se contentou em entusiasmar-se com o heroísmo dos comunardos, “tomando o céu de assalto segundo a sua expressão. Muito embora o movimento revolucionário das massas falhasse ao
seu objetivo, Marx viu nele uma experiência histórica de enorme importância, um passo para a frente na revolução proletária universal, uma tentativa prática mais importante do que centenas de programas e argumentos. Analisar essa experiência, colher nela lições de tática e submeter à prova a sua teoria, eis a tarefa que Marx se impôs.

A única “correção” que Marx julgou necessário introduzir no Manifesto Comunista, ele a fez, segundo a experiência revolucionária dos comunardos de Paris. O último prefácio do Manifesto Comunista, assinado conjuntamente pelos dois autores, data de 24 de junho de 1872. Karl Marx e Friedrich Engels dizem ali que o programa do Manifesto “está hoje envelhecido em alguns pontos”.

A Comuna, especialmente, demonstrou que “não basta a classe operária apoderar-se da máquina do Estado para adaptá-la aos seus próprios fins.

As últimas palavras entre aspas dessa citação foram tiradas da obra de Marx: A Guerra Civil em França. Assim, Marx e Engels atribuíam tão grande importância a uma das lições fundamentais da Comuna, que a introduziram, como modificação essencial, no Manifesto Comunista.

 

Artigo publicado originalmente no Direto da Aldeia em 18/3/2021.

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