Tendo como parâmetro a forma do Estado burguês, Roberto Campos Neto está entre as mais prestigiadas figuras da República. Ocupa o principal cargo do estratégico Banco estatal, que lhe garante o lugar privilegiado para influir nas decisões do Copom. Transformou-se, mediante a Lei Complementar no 179/2021, sancionada pelo tristemente célebre mandatário da extrema-direita, em titular de um posto quase inamovível durante quatro anos de autoridade sobre a moeda e a Selic. Ademais, adentrou soberano, imune à vontade manifestada nas eleições, a trajetória do novo Governo Central, por sua vez de mãos atadas pela inércia do CMN e pela composição conservadora do Senado Federal.

Coroando as excelências institucionais de praxe, o intocável burocrata ostenta uma fachada intelectual privilegiada, se avaliada conforme as formalidades acadêmicas e os serviços profissionais prestados. Graduou-se pela University of California, que os currículos altissonantes nomeiam de alma mater, como também trabalhou a sua vida inteira nas cúpulas das maiores instituições monopolista-financeiras – Banco Bozano Simonsen, Banco Santander, Claritas Investimentos –, sempre operando setores relacionados aos Derivativos de Juros-Câmbio, Dívida Externa, Bolsa de Valores, Renda Fixa Internacional, Gerência de Carteiras, Trading, Tesouraria, Formação de Mercados e assim por diante.

Como se vê, homem de confiança dos magnatas. Não bastasse, gaba-se de ser homônimo relativo ao avô teólogo, diplomata, economista e político, de currículo entreguista impecável, o Bobby Fields que, após aderir ao golpe de 1964 e assumir o Ministério do Planejamento no Governo Castelo Branco, seguiu a moda tatcherista e acompanhou as doutrinas ultraliberais “triunfantes”, além de festejá-las em suas memórias: “Estive certo quando tive todos contra mim”. Como a genética é inútil para definir políticas e ideologias, o neto ganhou confiança do “mercado” – leia-se, a hegemonia vigente no metabolismo do capital – pela herança patrimonial, cultural e axiológica que geriu com maestria.

Todavia, o ápice de sua biografia ocorreu na última nomeação, pelo chefete palaciano que fez história como responsável pelas medidas mais antipopulares, antinacionais e autocráticas do Brasil. Agora, o serviçal dos poderosos incrustados no cume da sociedade burguesa, fiel à fração reacionária do capital, vem teorizar nada menos que sobre a economia do maior associado ao Brics. Com empáfia, imaginou as ruínas desejadas e mal disfarçadas, em São Paulo, dia 28, segunda-feira: “Temos vários fatores atuando sobre a China, sendo que o mais razoável é haver uma desaceleração” abaixo de 4%; “Vamos acompanhar como o governo chinês lidará com um povo que acostumou a crescer.”

Ora, nada opinou sobre a recessão iminente na zona do Euro, cujo PIB cresceu apenas 0,6% relativamente ao segundo semestre passado. Silenciou, também, sobre a fraca elevação do PIB norte-americano. Será que lá “o povo” nada conta porque teria desacostumado “a crescer”? A esfinge do Bacen nem pede para que se a decifre, pois ninguém será devorado pelo mistério, desmoralizado nos índices anuais da China: entre 1994 e 2022, alta média com 8,7%, pico de 14,2% em 2007 e piso nos 2,2% em 2020. Vê-se que a desgraça do amigo vira ouro na sua retina indulgente, mas o sucesso do inimigo é pimenta. Como analisa o curso da economia, quando gerida por quem o nomeou?

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