Há tempos se conjectura – mais ainda, espera-se – que a economia estadunidense caminhe para uma recessão. Agora é irrecorrível, oficial e inocultável, de vez que o Escritório de Análises Econômicas, ligado ao Departamento de Comércio dos USA, o reconheceu para quem deseja enxergar: O PIB da maior potência imperialista caiu 0,9% nos meses de abril, maio e junho, este ano. Lembre-se: tinha despencado 1,6% no primeiro trimestre, considerando-se o número divulgado há quatro meses pela mesma instituição. Foi a cifra mais baixa desde março, 2020, quando a Pandemia fazia uma razia nacional.

Há outras mazelas dignas de nota. Uma é a baixa planetária no metabolismo do capital, mormente na Europa prestes a entrar no inverno boreal, que faz cada vez mais jus ao apelido pouco jubiloso de “Velho Mundo”. A outra informação, também de relevância, é a guerra por aberta procuração da Otan, contra os efetivos da Federação Russa na Ucrânia. Intensificam-se os estragos provocados pelos retornos consequenciais das sanções na região, equivocadamente nomeada com a noção genérica de “ocidental” desde a célebre dicotomia inaugurada pela civilização greco-romana, em oposição aos “bárbaros”.

Nada, porém, merece mais atenção do que a existência efetiva da estagnação na economia internacional, que materializa o que os editoriais do portal Vereda Popular vêm ressaltando: a Fase B ou depressiva da Onda Longa em curso. Eis os dados sobre o PIB, por Eleutério Prado recentemente apresentados em A Terra é Redonda e organizados pelo critério de políticas governamentais lato sensu. Entre 1946 e 1982, o BIP cresceu em média 5%, abarcando boa porção da Golden Age finalizada em 1972. Entre 1981 e 1990, 3,12%. Entre 1991 e 2010, 2,8%. Entre 2010 e 2020, 2,2%. Assim, a tensão é de baixa.

A curva na taxa de lucros é compatível com a semiparalisia do crescimento, tornando visível a baixa tendencial e orgânica. Após o auge de aproximadamente 11,2% em torno de 1966, quando a Fase A ou expansiva navegava em mar de almirante, começa o declínio, inicialmente sem motivos de maiores transtornos para o pulso positivo na reprodução ampla do capital. No entanto, passados sete anos, a retenção de mais-valia pela burguesia decresceu aos 10,1%, porcentagem ainda “razoável” para sustentar o equilíbrio no modo produtivo. Depois, a ruína: 7,3% em 1982, seguindo sem alterações acentuadas.

Mas o Governo Biden, ao rejeitar o critério de “recessão técnica”, disse que a Nação está no “caminho certo”. Na mesma toada, o Presidente Jerome Powell, do FED, repetiu que desacredita no baque. O cinismo espanta. Como esconder os fatos? Abandonando a hipótese de que os inquilinos atuais da Casa Branca ignoram os esforços estatísticos de sua própria classe dominante ou, pior, os julguem indignos de confiança, fica patente que o negacionismo é, via-de-regra, mentira deslavada. Na melhor hipótese, trata-se de uma quimera, ou seja, o fruto ideológico e irmão gêmeo do pragmatismo exacerbado.

A mídia monopolista-financeira entrou no coro. Com mais comedimento, a Secretária do Tesouro dos USA, Janet Yellen, reconheceu a existência de certo “risco” recessivo, dizendo que seria evitável, mas a manchete da CNN Brasil realçou a sua declaração, mesmo tendo que recuar dias depois. O site UOL Economia, igualmente, veiculou a notícia; porém, no título afirmou que o “temor por recessão cresce”, como se a realidade ainda faltasse. Tais percalços mostram que os meios privados especializados em manter a hegemonia exigem leituras críticas e a imprensa revolucionária é deveras imprescindível.

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