A PEC n. 1/2022, que aumenta ou institui auxílios diretos e indiretos a certos segmentos sociais, recebeu – com raras exceções – o voto favorável dos partidos à esquerda e seus aliados. Mas tal postura, em regra, tem sido envergonhada, como se uma síndrome de cunho moralista ou defensista obstruísse a fala oposicionista. Persiste uma tríplice impressão de andar na criticada má companhia situacionista, comprometer a demarcação dos campos em conflito e fortalecer o inimigo principal com sua tática oportunista. O clima hesitante favorece o efeito pretendido pelo Palácio: aparecer como alinhado às urgências populares, reverter a situação adversa e assumir a ofensiva na campanha.

O dilema está relacionado a uma impressão empirista, cativa do fenômeno. A iniciativa governamental, no seu núcleo essencial, como acontecimento político, representa o exato reverso de uma trajetória iniciada com a posse do capitão reformado, pontuada pelas negações às medidas compensativo-sociais e à regra imposta para o salário mínimo, que há três anos e meio agravam o processo de pauperização geral e achatam o preço real do labor proletário. Ademais, a preparação da proposta oficial recebeu a resistência ultraliberal de Guedes, que sempre tratou como dogmas o critério de austeridade, o custo internacionalizado nos combustíveis, o teto nos gastos e a contenção na demanda.

Basta olhar os pontos contemplados para identificar os reclamos das multidões que os protofascistas deixaram literalmente “a Deus dará”. Os R$ 41,2 bilhões destinam-se a cobrir: o auxílio mensal de R$ 600,00 para famílias pobres; os vales de R$ 1.000,00 para caminhoneiros autônomos; as cotas bimensais de R$ 53 para comprar botijão; as retribuições aos estados para transportar pessoas idosas; os benefícios para taxistas registrados até 31/5/2022; a liberação de R$ 500 milhões visando a comprar bens produzidos por camponeses; o repasse a créditos fiscais até R$ 3,8 bilhões para fortalecer a fabricação competitiva do etanol. Logo, transparece o sentido emergencial que, aliás, demorou.

O cavalo-de-pau representou, pois, a capitulação do mandatário em face do rechaço ao seu fracasso. As lutas entre as classes ocorrem não só em capítulos avançados – greves ou manifestações –, mas também como anseios traduzidos em sinais triviais, não raro surdos e por vezes tênues, a exemplo dos captados na sociedade política por baixo, via cabos eleitorais, vereadores ou prefeitos, como também mediante pesquisas confiáveis, dirigidas por métodos científicos. Assim os descontentamentos e tendências dos cidadãos igualmente se transmitem aos “de cima”, ensejando respostas. Eis porque a PEC Eleitoreira é menos vitória do que recuo; é antes uma demagogia do que “bondade”.

Ao contrário, as forças democráticas e progressistas precisam declarar, explicitamente, que votaram na Emenda Constitucional recém-aprovada por coerência e compromisso aos interesses populares – os pleitos mais sentidos, cristalinos e legítimos das maiorias exploradas e oprimidas –, como sempre defenderam quando estiveram na oposição e fizeram nos governos. Portanto, em contraste com a medida oficialesca – pragmática, repentina, ocasional, transitória e amedrontada –, válida só até o fim do ano, mantém o movimento Vamos Junto pelo Brasil a tradição inarredável de quem pensa e age com a máxima conexão, e convicção, amenizando as mazelas provocadas pela extrema-direita.

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