Paulo Iannone—
A Rússia anunciou no dia 6 de julho ter assumido totalmente o controle de Lugansk, região do leste ucraniano, após a conquista da cidade de Lysychansk após intensos combates. A ofensiva segue no sentido às cidades de Kramatorsk e Sloviansk, onde as tropas russas avançam para tentar a tomada de Donetsk e, enfim, o controle do Donbass.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse na última semana que uma eventual rendição representaria “o fim da Ucrânia”. O Ministério da Defesa da Ucrânia afirma ter obtido vitórias no sul do país, em Melitopol, Kherson, Dnipro e outras áreas que haviam sido declaradas tomadas pela Rússia, em operações, no entanto, que não passam de contra-ataques meramente pontuais.
Em Kharkiv, região cuja capital tem a segunda maior população do país, com 1,4 milhão de habitantes e importante polo industrial, o cenário de guerra e destruição se matém enquanto enfrenta bombardeios e artilharia praticamente todos os dias.
Durante encontro com parlamentares russos na Duma, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que a chamada “operação militar especial não começou a sério”. Pouco antes, em fórum jurídico de São Petersburgo, Putin afirmou estar disposto a dialogar sobre controle de armas e estabilidade estratégica, no entanto considerou “perigosa” a atitude do Ocidente de tentar promover sua “exclusividade”.
De acordo com Putin, alguns países não estão dispostos a perder seu papel de dominante global e procurar preservar o “modelo unipolar”. Em meados de junho, o presidente russo prognosticou em evento com empresários o “fim do modelo unipolar, liderado somente pelos Estados Unidos”.
Na sexta-feira, 8/7, o chanceler alemão Olaf Sholz expressou preocupação com as consequências prolongadas do conflito, em especial pela dependência do gás russo.
Em 11 de julho, o gasoduto Nord Stream 2, que atravessa o Mar Báltico e leva gás fornecido pela empresa Gazprom até a Alemanha, vai fazer manutenções e Sholz teme o corte de fornecimento permanente.
O impasse do bloqueio de grãos nos portos ucranianos controlados pela Rússia já dá sinais de riscos de escassez mundial de alimentos. Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores russo, disse em 8/7 que seu país está disposto a liberar rotas de saída pelo Mar Negro com apoio da Turquia desde que a Ucrânia se comprometa em desminar e colaborar em um processo seguro.
À medida que os recentes fóruns mundiais, como a cúpula da Otan realizada em Madri e o encontro de Ministros dos Exteriores do G20 na Indonésia, trataram de dar continuidade às sanções e as críticas “desenfreadas” à Rússia, conforme classificação de suas autoridades, os diálogos por um possível cessar-fogo e retorno às mesas de diálogo pairam sob território aparentemente estéril.
Recai sobre a Otan, e especialmente aos EUA como principal agente que dá as cartas na aliança militar, a responsabilidade pelo impasse nas negociações, já que abastece a Ucrânia com empréstimos, armas e munições, bem como pressiona em prol de um conflito generalizado e prolongado, usando UE como bucha de canhão, uma vez que a empurra para uma crise econômica e energética que pode prolongar-se até o inverno, com sérias consequências para seus trabalhadores e povos.