Por CC do PRC—
O portal Vereda Popular, comemorando os movimentos grevistas ocorridos em Minas Gerais e São Paulo durante 1968, que ousaram levantar-se em face da brutal repressão política, transcreve a moção aprovada pelo Comitê Central do PRC – Partido da Refundação Comunista – em 27 de maio passado:
Em 1968, quando a resistência democrática ao regime ditatorial-militar preparava manifestações de norte a sul no Brasil, os metalúrgicos protagonizaram a greve memorável de Contagem. O movimento de abril, ao reivindicar um reajuste imprevisto pelos patrões, desafiou também a política do Governo Federal, que impunha o arrocho salarial. Logo depois, em maio e setembro, o exemplo foi seguido pelas paralisações dos taxistas e bancários de Belo Horizonte. Os operários de Osasco haviam parado em julho. De novo, na Cidade Industrial mineira, os assalariados cruzaram os braços em outubro.
O pronunciamento proletário em sequência, que passou à história pelo pioneirismo e pela coragem, foi deflagrado na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, em 16/4/1968. Os 1.200 trabalhadores no setor de trefilaria controlaram a fábrica e elegeram uma comissão para negociar com os diretores. As principais reivindicações eram melhorias nas condições de trabalho e reajuste salarial de 25%. Como não houve acordo, a DRT decretou, no dia seguinte, a ilegalidade do movimento. Assim que surgiram rumores sobre a iminente invasão policial das instalações ocupadas, os paredistas seguiram para a sede do Sindicato. Às 18 horas do mesmo dia, a Polícia Militar invadiu a empresa.
A paralisação estendeu-se à Sociedade Brasileira de Eletrificação e à Mannesmann, totalizando 6.000 grevistas. No dia 20 foi eleito o Comando de Greve Unificado. Seu coordenador Ênio Seabra, militante da Ação Popular e ex-presidente do Sindicato anteriormente ao golpe de 1964, encabeçara a chapa eleita em 1967 e fora impedido de tomar posse pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. Logo depois, o ministro Jarbas Passarinho se dirigiu em pessoa aos trabalhadores em assembleia. Sob a vaia geral os acusou de agitadores e fracassou em fazê-los voltar ao trabalho.
Mesmo com as ameaças do coronel, o movimento se ampliou para as RCA Victor, Demisa, Industam, Acesita, Minas Ferro, Material Ferroviário S/A (Mafersa), Cimec, PohligHeckel Brasil S.A. e demais seções da Belgo-Mineira. Pressionado pelas massas, o governo ofereceu um abono salarial de 10%, mas a proposta foi recusada e mais outras fábricas pararam. No dia 23, os grevistas somavam 20 mil e as unidades policiais-militares ocuparam as ruas da região. Ato contínuo, os burgueses convocaram seus empregados para voltar ao trabalho e os ameaçaram com demissão por justa causa.
No dia 25, em face da correlação de forças instaurada pela forte coerção, uma nova assembleia votou pelo fim da greve, mas o ânimo permaneceu elevado. A repressão que se seguiu foi violenta e centrada nos dirigentes. No entanto, a greve se tornou um marco do movimento operário brasileiro e da luta democrática em ampliação contra o regime dos generais. A conquista econômica foi o abono, que se estendeu ao País inteiro. Em termos políticos, mobilizou o mundo do trabalho, inclusive os segmentos até então afastados do Sindicato, e colocou na pauta nacional o legítimo direito de greve.