O fim de março trouxe alguns dissabores ao Governo Federal. Foram uns desnecessários e outros impostos, principalmente, pelas circunstâncias políticas surgidas com a fase temerista bianual e com a estadia extremo-direitista no Palácio do Planalto por quatro anos. Dispensáveis se mostraram os dois seguidos comentários espontaneístas, impróprios e inábeis do presidente sobre o lawfarista Moro, que o puxaram gratuitamente ao centro político da vida nacional. Imposta pela conjuntura tem sido a rusga interior à base congressual do Planalto, paralisada pela turra entre Câmara e Senado, que atrasa o processo parlamentar indispensável para fluírem as medidas emergenciais de cunho popular.
Também compulsório é o pragmatismo neoclássico e ortodoxo do Banco Central, que, mediante a Lei Complementar no 190/2021, supostamente ganhou a ‘independência’ vis-à-vis aos pronunciamentos eleitorais “de ocasião”. Todavia, realmente, o ciclo sucessório se tornou incompatível com a posse do primeiro mandatário, subordinando a direção política, praticamente, à reprodução metabólica do capital, cujo apelido é mercado e cujo resultado é a hegemonia dos conglomerados monopolista-financeiros sobre as medidas econômicas. Violaram-se não só as prerrogativas do Presidente, fixadas nas urnas, como igualmente as competências do Parlamento bicameral e do regime democrático em geral.
Também há fatos positivos. Alguns foram tematizados nos editoriais do portal Vereda Popular. Um exemplo é a reversão experimentada pela crise militar. Semelhante processo avançou, agora, com a notícia – repassada por fontes no entorno do general Tomás Paiva, comandante do Exército, ao jornal Folha de S. Paulo – de que os militares associados, eventualmente, a comemorações sobre o ato golpista realizado em 1964 e a celebrações acerca do regime ditatorial-militar então implantado, serão devidamente punidos. A informação adquire maior importância quando aparecem indícios de que os movimentos hiperreacionários vêm alardeando a participação de oficiais nos eventos ilegais.
Os gestos governamentais mais auspiciosos, porém, relacionam-se – direta ou indiretamente – à defesa e afirmação da soberania geopolítica. De início, a viagem à China foi remarcada para o dia 11 de abril, conforme divulgou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Mesmo que ainda estejam na dependência dos ajustes normais em agendas bilaterais, o anúncio já resultou, por si, em dois efeitos: desativou as especulações conspirativas, conforme as quais o adiamento teria sido motivado por cessão às pressões imperialistas, e injetou novo ânimo às partes mobilizadas na ultimação dos projetos e dos entendimentos já encaminhados, que haviam sofrido alguma desaceleração.
Ademais, o progresso no acordo sino-brasileiro para uso do real e do yuan nos investimentos e operações, trará consequências. Embora negue a pretensão de substituir o dólar como equivalente geral nas trocas, sua mera exclusão parcial propiciará vantagens para os ramos econômicos brasileiros envolvidos nas exportações ou importações de bens para o consumo e a produção, com abertura de novos mercados, ampliação da pauta comercial, redução dos custos financeiros, previsibilidade superior no câmbio, menores riscos dos negócios e maior resiliência em caso de sanções unilaterais. Ao ferir os interesses norte-americanos, a Nação precisa preparar-se contra provocações ou retaliações.
Tais providências estão em um contexto em que o Brasil votou a favor da proposta sino-russa, visando a criar uma “comissão internacional independente” sob a iniciativa da ONU, para investigar o terrorismo contra os gasodutos Nord Stream 1 e 2, no Mar Báltico. Lembre-se que surgiram denúncias, inclusive do jornalista Seymour Hersh, segundo as quais as explosões foram causadas por mergulhadores vinculados à Marinha estadunidense, com ajuda norueguesa e participação de Biden. A suspeita cresce na medida em que três grandes potências da Otan – USA, Inglaterra e França – vetaram os termos da resolução no Conselho de Segurança. Os demais nove membros rotativos se abstiveram.
Outro assunto foi a presença de Lula no Complexo Naval de Itaguaí, dia 27, visando a formalizar o compromisso governamental em continuar o projeto Prosub, destinado a desenvolver o submarino brasileiro a propulsão nuclear com técnicas próprias e independentes, até 2029, na mesma perspectiva que o moveu quando lançado em 2008. Na cerimônia, que uns julgaram desimportante e outros combateram, oficiais da Marinha Brasileira e funcionários da empresa estatal Nuclebras Equipamentos Pesados participaram da revitalização, com investimentos estratégicos para prover a segurança do Brasil e do Atlântico Austral. São gestos que podem fortalecer uma política externa soberana e altiva.