Por Carlos Ferrer/Baiano—

Roberto Drummond nunca dirigiu um carro, e tinha pânico de viajar de avião ou de ônibus. Um taxista, então, sempre o levava em suas viagens, sob a condição de não ultrapassar a velocidade de 80 quilômetros por hora.

Com ele, fomos para o Rio Janeiro lançar o livro Quando fui Morto em Cuba, que tem uma dedicatória para esse cronista. Mas, para a volta, pegamos o saudoso Trem Vera Cruz.

Numa gentileza da Editora Ática, ficamos hospedados no luxuoso Copacabana Palace. Roberto ficou tão encantado, que voltou a se hospedar no velho hotel em outras ocasiões.

O lançamento foi na livraria da Travessa no Leblon, com enorme sucesso. Encerrada a noite de autógrafos, fomos para um jantar com uma turma da pesada: Gilberto Gil, Ziraldo, Affonso Romano de Sant’Anna, Marina Colasanti, Andrea Neves, Alexandre Salles e José Aparecido de Oliveira.

Depois de todos pagarem a conta, José Aparecido, que tinha ido embora mais cedo, ligou para o restaurante e mandou que devolvessem o dinheiro de todos, pois a conta era dele, mas havia se esquecido de pagar.

O cantor e compositor Alexandre Salles, com uma alegria incontida, falou para mim: “Baiano, essa é a primeira vez que vejo o dinheiro sair do bolso, e depois voltar”.

Na volta, fomos parar em Juiz de Fora, para outra noite de autógrafos – dessa vez na Livraria Viviane. Ao sermos recebidos por dois sobrinhos de Viviane, o escritor foi logo dizendo: “olha, Juiz de Fora tem fama de ter mulheres muito bonitas, e eu espero vê-las”.

Com aquele bairrismo que é peculiar às pessoas daquela cidade, os jovens disseram:”isso é tranquilo, Roberto, você verá aqui muitas mulheres lindas”.

No lançamento do livro, nenhuma mulher bonita apareceu, e Roberto começou a brincar com os rapazes: “cadê as mulheres bonitas de Juiz de Fora, meu caro?”

Um deles disse: “calma, Roberto, quando terminar o lançamento, nós vamos dar uma volta pelos bares da cidade, e você verá muitas mulheres bonitas”.

E, assim, fomos de carro perambular pelos quatro cantos pela cidade, para, finalmente, ver as tais mulheres bonitas de Juiz de Fora. No primeiro bar, nada; no segundo, também não. A gozação do Roberto só aumentava a cada bar que passávamos. Não aparecia uma Miss Juíz de Fora sequer, para desespero dos rapazes.

Enfim, deu a hora de irmos para a Estação embarcar no Vera Cruz, que passava por volta da meia-noite.

Mas, pouco antes, Roberto Drummond disse que queria comprar uma água mineral, e foi informado pelo motorista de que havia um bar próximo à Estação.

Ao parar o carro, foi uma verdadeira festa para os rapazes: uma deusa estava no bar, tomando sua cerveja. Um deles gritou:”Olha lá, Roberto, agora fala que não tem mulher bonita na nossa cidade! Olha que monumento!”.

Mas, naquele dia, quis o destino pregar uma peça nos garotos: a mulher belíssima de Juiz de Fora era uma amiga minha de Belo Horizonte, modelo da agência da Neneca Moreira.

Ao me reconhecer, fez um escândalo: “Baiano, eu não acredito que vamos viajar juntos para BH, e ainda na companhia do grande escritor Roberto Drummond!”.

Durante todos os anos em que convivi com Roberto Drummond, nunca o vi rir tanto quanto riu no trem: fazendo graça da situação, dizia: “Baiano, a única mulher bonita de Juiz de Fora era, na verdade, de Belo Horizonte!”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *