Faltam somente alguns dias para o primeiro turno das eleições. Na prática, duas semanas. Os resultados consolidados nos principais institutos especializados em pesquisas de opinião indicam uma contínua e consistente maioria para os postulantes Lula-Alckmin. O mesmo resultado aparece nas sucessivas consultas sobre o returno, mostrando que o largo arco de alianças das forças oposicionistas, que o portal Vereda Popular vem defendendo, caminha, solidamente, para o êxito eleitoral. Portanto, justifica-se, mais do que mero desejo, a confiança de que a reação bolsonariana será derrotada nas urnas.
Todavia, os números – sempre oscilando nas margens adotadas como erro estatístico – continuam indefinidos quanto ao possível desfecho da contenda já na rodada inicial do sufrágio, já que os percentuais obtidos pela principal chapa oposicionista vêm girando em torno de 50% entre os votos válidos. Portanto, há uma possibilidade – que os comunistas e a militância engajada na campanha querem ardorosamente –, mas nada que se aproxime de uma certeza ou mesmo de uma probabilidade com superlativa densidade. Apresenta-se, pois, um cenário incerto, que pede análise pelas direções das campanhas.
Nesse quadro emerge, à esquerda, certa ilusão voluntarista, conforme a qual uma “jogada” mais esperta – uma palavra de ordem, alguma operação arguta ou até uma conspiração qualquer – teria o condão mágico de resolver a “parada” imediatamente. Um exemplo é o apelo ao chamado “voto útil”, que passou a ser adotado por certos setores como se fosse a chave da vitória já. Inspirado no empirismo radical de Willian James, semelhante lema é na verdade inútil, já que pretende substituir o espírito prático, inerente à orientação tática, pela desastrada manobra subjetivista, própria do pragmatismo filosófico.
O resultado principal dessa conduta é comprometer o núcleo tático da campanha, vez que, pretendam seus autores ou não, debilita o combate concentrado à situação falangista para enfatizar os problemas das outras candidaturas de oposição. Em consequência, gera atritos e ressentimentos com possíveis aliados, assim como direciona o esforço, que deve centrar-se nas massas indefinidas ou manipuladas pela extrema-direita, para pressionar hoje os eleitores que podem aproximar-se amanhã em um eventual segundo escrutínio. De resto, revela uma postura deseducadora e com viés de oportunismo.
A maneira produtiva de abordar o momento político da campanha, elevando as intenções de votos, é verbalizar e concretizar três assertivas. Primeira, que o movimento Vamos Juntos pelo Brasil é o inimigo irreconciliável da reação bolsonariana. Depois, que só a frente mais ampla possível tem condições de vencer a extrema-direita. Por fim, que a eleição de Lula-Alckmin por expressiva maioria, seja no primeiro turno, seja no segundo, é importantíssima para dissuadir os intentos autogolpistas, garantir a posse legal dos eleitos e fortalecer as mudanças de interesse nacional-popular, emergenciais ou de longo prazo.