Na última quinta-feira, dia 14/4/2022, as centrais entregaram para o ex-presidente Lula, durante um encontro em São Paulo, a sua pauta reivindicatória. O documento havia sido aprovado na Conclat, para ser apresentado aos candidatos às eleições gerais de outubro, especialmente os postulantes ao governo central. Representou, pois, o meio privilegiado para promover a iniciativa unitária do movimento sindical, considerando-se a grave situação do Brasil, que sacrifica especialmente os trabalhadores, além das inúmeras dificuldades presentes nos caminhos do mundo laboral, bem como a importância crucial do pleito para estabelecer o novo quadro conjuntural que pode vir a viger no próximo ano.

As entidades gerais – CSB, CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical (Instrumento), Intersindical (Central), Nova Central, Pública e UGT – assinam o texto Pauta da Classe Trabalhadora 2022, que lista 63 “prioridades”. Como contém pontos gerais, que vão além de assuntos específicos de uma empresa ou mesmo categoria, exigindo posturas governamentais e congressuais, será uma referência para lutas políticas. Logo de início, fica patente que o seu espectro, minucioso e dispersivo, precisará concentrar-se nas campanhas com lema, objetivo e organização concretos, para possibilitar batalhas reais com forte lastro extraparlamentar, participação ampla de massas e grande ressonância nacional.

Há temas cruciais que só aparecem como noção transversal ou do senso comum, reflexo do sindicalismo tal como existe hoje. Obviamente, no desenvolvimento burguês se deve disputar cada interesse dos explorados. Inobstante, como supor que um imperativo moral – “trabalho decente” – possa gerar “elementos estratégicos” de um “projeto nacional” sem as mazelas imanentes ao metabolismo do capital? De mais a mais, a “Democracia” preenche os preâmbulos, como noção liberal – universal e abstrata –, pedindo “construção” e “consolidação”, mas some na plataforma, que deveria conter a clara defesa do regime democrático. Quanto à questão nacional, só fica embutida em algumas consignas.

Menos importante – mas também notável, pois gera uma série de consequências práticas na elaboração estratégica e nas linhas táticas ou setoriais – é a corriqueira e genérica utilização de “classe trabalhadora”, Tal expressão, quando vem no singular, dissolve as distinções de classe no interior do movimento sindical. Impede, assim, a percepção teórica sobre suas características específicas, bem como a elaboração de políticas singulares para o proletariado, na cidade ou rural, o campesinato, em seus vários estratos, e os chamados “contapropistas”, como segmento inferior da pequena burguesia principalmente urbana. Todavia seria impróprio sobrepor, à necessária coesão, a rigorosidade conceitual.

Pode-se dizer que tais lacunas foram em parte preenchidas pelos discursos dos candidatos, embora com semelhantes ilusões. Alckmin, que alguns consideram um mero forasteiro na seara da “esquerda”, recolocou a exigência democrática, explicitamente: “Agora, temos um governo que odeia a democracia, que elogia a tortura; e […] venho me unir à luta de vocês”. Coube a Lula repor, do seu jeito, a questão nacional: “O país tem que ser soberano não só para cuidar das fronteiras, mas para garantir a qualidade de vida de sua população. Como falar em soberania” do “terceiro maior produtor agrícola”, mas “que tem 116 milhões […] com deficiência alimentar”, muitos catando “carcaça de frango”?

Importam mais do que tudo a manifestação de unidade, a efetivação do ato político e a entrega da plataforma, prenúncios de novas lutas e conquistas. Vencer as eleições, barrar o protofascismo e garantir a posse do eleito é uma tríade importantíssima; porém, tão relevante será remobilizar e organizar o movimento sindical, que nada ganhará se restar paralisado, esperando por dádivas de cima. Uma nova conjunção de forças, por si, abriria outras possibilidades. No entanto, seria uma vã esperança esperar milagres de um governo no interior do capitalismo e do Estado burguês, ainda mais com suas características político-ideológicas e as pressões multilaterais em uma situação altamente complexa.

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